LER EM TODAS AS DISCIPLINAS

Ler com competência significa ser capaz de incorporar o que os textos dizem para poder transformar nosso conhecimento. Isabel Solé (1998).

1. O que é ler?

A priori, ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é. (FOUCAMBERT, 1994). Para a renomada pesquisadora Isabel Solé, em estratégias de leitura (1998) ler é compreender e compreender, sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos entender. É um processo que envolve ativamente o leitor, à medida que a compreensão que realiza não deriva da recitação do conteúdo em questão.

2. E o que faz o leitor?

De acordo com Solé (1998) é imprescindível o leitor encontrar sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura, e para isso tem que conhecer o que vai ler e para que fará isso; também dispor de recursos- conhecimentos prévio, relevante, confiança nas próprias possibilidades como leitor, disponibilidade de ajudas necessárias, etc.

Entende-se, pois, segundo Zamel (1992) que a leitura representa uma atividade engajada de construir significado e assim, permite aos aprendizes fazer conexões com o texto (leitor/ouvinte). Já que a escrita fornece uma oportunidade única para descobrir e explorar essas contribuições e conexões, além de permitir ao leitor dialogar com o texto e encontrar uma maneira particular de entrar nele.

Hoje, a leitura é vista como uma atividade dialógica, um processo de interação que se realiza entre o leitor e o autor, mediado pelo texto, estando todos os elementos envolvidos situados em um determinado momento histórico-social.

3. Ajudando a construir o sentido do texto

As linguistas Koch & Vanda (2002) afirmam que o ato de ler é construir sentidos baseado em conhecimentos que temos sobre a língua, as coisas do mundo, as situações de comunicação e os textos (sua organização e função). Portanto, ler é entendido convencionalmente como receber, tirar, transmitir conhecimentos, possui outro sentido que há muito supera esse pensamento inicial.

Sendo assim, nesse processo de construção de sentidos através da leitura, leitores e escritores, enquanto autores interagem com o texto objetivando compreendê-lo a partir do conhecimento individual e das experiências trazidas de outros textos e/ou contextos. Esse fato provoca diferentes relações entre leitores/escritores e textos ligados a tarefa de construir sentidos. Tal tarefa pode ser compreendida enquanto dialógica (cf. BAKHTIN, 1981). O dialogismo de que trata Bakhtin é o princípio constitutivo da linguagem e a condição do sentido para o texto, estabelecido através da interação entre os sujeitos (leitores/escritores) e o próprio texto.

4. E o papel do professor?

Cabe ao educador deve oferecer as crianças os segredos que utilizam quando eles próprios lêem. Isso deve ser feitos da mesma forma que ocorre com os outros conteúdos de ensino ou quando mostra como utilizar adequadamente um caderno. O professor funciona como um especialista em leitura explicitando seu processo pessoal a turma, o que leva a compreensão do que está escrito: qual seu objetivo com aquela determinada leitura, que dúvidas surgem, que elementos toma do texto para tentar resolver seus problemas... Vendo o que o professor faz para elaborar uma interpretação do texto, os estudantes entendem as chamadas estratégias de compreensão leitora e passam a adotá-las.

5. É preciso ensinar a ler?

O ensino da leitura é fundamental, porque como instrumento de conscientização nos ajuda a analisar e compreender as contradições existentes na sociedade brasileira para não cair nas armadilhas da ideologia dominante, que preconiza uma leitura superficial e sem atender às necessidades do indivíduo.

Entende-se que a leitura é uma atividade que se inicia na educação informal (família) e encontra sustentação na vida em comunidade. Em suma “(...) Quando a sociedade se divide em classes antagônicas e mostra-se desigual em diferentes níveis, a leitura pode se apresentar na condição empregado sistematicamente pelos setores dominantes; neste caso ela constitui elemento auxiliar do processo de inculcação ideológica(...).

6. Por onde começar?

Iniciamos nossa discussão dizendo que: “(...) a leitura tem que ser objeto de ocupação da escola porque ela é o caminho para a formação do indivíduo, e a escola se propõe a ser o espaço para essa ocorrência.” Então, o papel da escola não é mais a mera transmissão de informações; hoje, exige-se que ela desenvolva a capacidade de aprender, o que subentende o domínio da leitura e da escrita. A inserção do aluno, no universo da cultura letrada, desenvolve a habilidade de dialogar com os textos lidos, através da capacidade de ler em profundidade e de interpretar textos significativos para a formação da sensibilidade, da cultura e da cidadania. Ela vem, pois, constituindo-se como espaço privilegiado para a aprendizagem e para o desenvolvimento da leitura, pois aí se dá o encontro decisivo da criança com o ato de ler. Para muitas crianças de nosso país, a escola é o único lugar onde há livros, o único lugar onde os alunos não estão voltados apenas para a televisão.

7. Estratégias utilizadas pelo leitor para construir o sentido do texto.

Estratégias de seleção: permitem que o leitor se atenha aos índices úteis, desprezando os irrelevantes. Ao ler, fazemos isso o tempo todo: nosso cérebro “sabe”, por exemplo, que não precisa se deter na letra que vem após o “q”, pois certamente será o “u”; ou que nem sempre é o caso de se fixar nos artigos, pois o gênero está definido pelo substantivo.

Estratégias de antecipação: tornam possível prever o que ainda está por vir, com base em informações explícitas e em suposições. Se a linguagem não for muito rebuscada e o conteúdo não for muito novo, nem muito difícil, é possível eliminar letras em cada uma das palavras escritas em texto, e até mesmo uma palavra a cada cinco outras, sem que a falta de informações prejudique a compreensão. Além das letras, sílabas e palavras, antecipamos significados.

Estratégias de inferência: permitem captar o que não está dito no texto de forma explícita. A inferência é aquilo que “lemos”, mas não está escrito. São adivinhações baseadas tanto em pistas dadas pelo próprio texto como em conhecimentos que o leitor possui. Às vezes essas inferências se confirmam, e às vezes não; de qualquer forma, não são adivinhações aleatórias. Além do significado, inferimos também palavras, sílabas ou letras. Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada ou inferida em função do contexto: portadores, circunstâncias de aparição ou propriedades do texto. O contexto, na verdade, contribui decisivamente para a interpretação do texto e, com frequência, até mesmo para inferir a intenção do autor.

Estratégias de verificação: tornam possível o controle da eficácia ou não das demais estratégias, permitindo confirmar, ou não, as especulações realizadas. Esse tipo de checagem para confirmar – ou não – a compreensão é inerente à leitura.

Utilizamos todas as estratégias de leitura mais ou menos ao mesmo tempo, sem ter consciência disso. Só nos damos conta do que estamos fazendo se formos analisar com cuidado nosso processo de leitura, como estamos fazendo ao longo deste texto.

8. Todas as leituras: ler para estudar, ler para se informar ou ler pro prazer

Um leitor competente busca selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Um exemplo claro disso é quando se busca em um jornal, aquilo que interessa saber diante de tantas outras informações: no caso da criança que não ler convencionalmente, busca selecionar por elementos que já conhece de cor.

Para Ojiehrl (1952), apud Bamberg (1975), distinguiu, em função dos motivos citados acima, quatro tipos de leitura. A leitura de informação, considerada a mais utilizada, principalmente pelo leitor adulto, volta-se tanto para a obtenção de orientação na vida e no mundo, quanto para a satisfação de necessidades pessoais e sociais. A leitura de fuga liga-se à necessidade de fugir da realidade. Através desta leitura busca-se o sucesso, o prestígio e o prazer não encontrados na vida cotidiana. Própria do leitor infanto-juvenil, esta função de leitura também é encontrada entre os motivos de leitura do adulto, mas com menor frequência. A leitura literária tem uma função estética, aprimorando a linguagem do leitor, permitindo-lhe constituir um modelo literário próprio. Finalmente, a leitura cognitiva, voltada para a compreensão de si mesmo, dos outros e do mundo, exige do leitor receptividade e senso crítico, o que a caracteriza como própria do leitor adulto.

9. Bons leitores são bons em qualquer disciplina?

Segundo estudiosos trabalhar redação e leitura é tarefa de todos os professores, não só dos que lecionam Língua Portuguesa. A capacidade de entender e produzir textos é fundamental em qualquer disciplina, de História até Matemática. Cada área tem textos com características específicas e não dá para deixar tudo por conta do professor de Língua Portuguesa. Então, o que todo professor pode fazer: a) Estimular o gosto pela leitura; b) Fazer perguntas e discutir o que foi lido; c) Avaliar o aprendizado por escrito; d) Mostrar a importância do vocabulário específico; e) Incentivar a clareza ao escrever; e f) Treinar a habilidade de organizar ideias.

10. Ensinar a ler em Artes

Entendemos que a educação estética (humanização dos sentidos) pode ser trabalhada nas instituições escolares por meio da disciplina Arte. Tornar-se e reconhecer-se como humano ocorre quando temos acesso aos bens culturais que a humanidade construiu ao longo dos anos, e entre eles está o conhecimento artístico. Educar esteticamente consiste em ensinar o Homem a ver, ouvir, movimentar-se, atuar e sentir, o que não acontece de forma livre e espontânea. Assim, perguntamos: O que ensinar sobre arte as escolas? Como ensinar? E como avaliar? O que são conteúdos escolares e artísticos?

Conteúdos escolares são os saberes universais que constituem o mundo da cultura, e, entre eles, está a arte. No contexto escolar, o objeto de estudo da disciplina Arte são os conteúdos específicos contemplados nas diferentes linguagens artísticas, entre elas música, dança, teatro e artes visuais, em um determinado tempo e espaço historicamente construído pelo Homem. Nesta perspectiva, os conteúdos escolares em arte devem ser abordados em direção a uma totalidade e que possa abarcar dois eixos: primeiro, os conteúdos estruturantes (a matéria-prima, os elementos formais, a composição e as técnicas de cada uma das linguagens artísticas); e segundo, a abordagem sócio-histórica (artistas, obras, época, gênero e movimentos e períodos históricos).

É fundamental que o professor conheça e organize o conteúdo da disciplina que leciona para que, a partir dele, possa construir caminhos para torná-lo mais acessível à apropriação deste pelos alunos. A sistematização e organização curricular dos conteúdos em Arte não consiste de uma listagem linear e estanque, mas sim de uma diretriz, um caminho que possa promover a apreensão, subjetivação e objetivação teórica e prática do saber artístico, de forma gradativa e que aos poucos possa ser aprofundada.

A ação pedagógica do professor em sala de aula, conforme o encaminhamento metodológico, precisa propiciar a práxis artística (unidade entre a teoria e a prática artística), por meio de vivências e do entendimento histórico e teórico das experiências vivenciadas. O docente necessita vivenciar experiências pedagógicas, didáticas e artísticas, ou seja, é preciso participar deste processo enquanto aluno para que se possa conduzir o processo ensino-aprendizagem como professor com os alunos em sala de aula.

Entretanto, também cabe à escola, em conjunto com o professor, promover espaços sociais e tempo para o desenvolvimento das atividades artísticas, de acordo com os instrumentos, técnicas e materiais, considerando-se as seguintes especificidades: a linguagem artística a ser trabalhada e o nível e modalidade de ensino a ser contemplado.

A avaliação na disciplina Arte apresenta duas funções: a diagnóstica e a diretiva. Na função diagnóstica, a qual é processual, contínua, permanente e cumulativa, tem-se como ponto de partida os conhecimentos artísticos construídos historicamente pelo Homem e expressos na escola como conteúdo artístico. Já como ponto de chegada, está a apreensão destes conteúdos pelos alunos a partir da sistematização e mediação dos mesmos pelo professor na relação ensino-aprendizagem. Na função diretiva, a avaliação baseia-se na reflexão e no questionamento da práxis artística que foi desenvolvida no encaminhamento metodológico pelo professor. Desta forma, além de ensinar, também cabe ao docente avaliar o ensinar e o aprender durante o processo de desenvolvimento do trabalho pedagógico da disciplina arte, tornando consciente ao aluno o que foi aprendido e ao professor o que foi ensinado.

Entretanto, avaliar também consiste em construir uma síntese (sistematização do conhecimento apreendido) do que os alunos estão aprendendo, sem nenhum julgamento, a qual pode ser: descritiva e por meio de registro. A avaliação descritiva comunica o andamento do processo ensino-aprendizagem, comparando-se o que o aluno sabia no início do processo e os saberes que adquiriu durante este movimento. Já na avaliação por registro, tudo o que é vivenciado e produzido pelo aluno é registrado de forma concreta e material, por exemplo: fotos, portfólio, obras artísticas produzidas e gravações de vídeo e áudio, entre outras.

Toda avaliação das diferentes linguagens artísticas pode ser realizada por duas formas: a informal e a formal. Na informal, o discente manifesta os conteúdos escolares que foram aprendidos e o docente os que foram ensinados; e na formal, o docente seleciona os conteúdos trabalhados e verifica se houve ou não aprendizagem pelo discente, e para tal utiliza-se de diversos instrumentos de avaliação, tais como: ficha de registro e de observação, dramatização, auto-avaliação, relatos, vivências, sínteses, etc.

Mas ainda indagamos: como sabemos que o aluno aprendeu? Como ele expressa esta aprendizagem? Creio que nesta situação, torna-se necessário que critérios de avaliação sejam estabelecidos, para que haja clareza dos conteúdos que o aluno apreendeu ou não, e daqueles que está a caminho de apreender ou não, desde que o foco esteja no processo e não no resultado da práxis pedagógica artística. Assim, o aluno expõe os diferentes níveis de apropriação e aprofundamento que efetivou ou não, e que pode vir a realizar. Como critérios de avaliação, destacamos: a vivência e produção de diferentes trabalhos artísticos, o desenvolvimento da sensibilidade do homem, a apreensão de produtos artísticos que o indivíduo construiu em suas práticas sociais e ao longo do tempo e espaço histórico, o desenvolvimento e aprimoramento dos órgãos dos sentidos para compreensão, criação, produção e fruição do trabalho artístico e a valorização da função social do artista, sua obra e seu tempo e espaço histórico, para a coletividade e para si próprio.

Desta forma, concluímos que não basta aprender um conteúdo escolar para mensuração de notas e aprovação de ano escolar, embora estas precisem existir no contexto escolar; é primordial ir além disso, ou seja, de aprender um conteúdo escolar em função de uma necessidade social e a compreensão e utilização do mesmo, rumo a uma intervenção e transformação na sociedade e em si mesmo. Nesta direção, o professor da disciplina Arte necessita formação continuada para promover a educação estética de acordo com os parâmetros aqui apresentados, o que só é possível por meio de oficinas e do uso de materiais de apoio e didáticos desenvolvidos e aplicados por professores e profissionais desta área.

Jeimes Paiva
Enviado por Jeimes Paiva em 06/02/2010
Código do texto: T2072901
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