Divina Decadência
Divina Decadência
"Há mulheres comportadas, outras são divina decadência: Maysa, Janis Joplin, Elis Regina, Judy Garland, Marilyn Monroe, Billie Holiday, Amy Winehouse..."
Não faças de minha casa: prostíbulo, albergue,
Quartinho de fundos com banheiro coletivo;
Não bebas de meu vinho como se bebesse chope gelado,
A pedir ao garçom mais batatinhas fritas;
Não comas de minha comida como se engolisse "rango" de quartel;
Não vasculhes minhas gavetas à cata de dinheiro,
Quando alcoolizada caio desfalecida no tapete persa da sala;
Não sejas como essas criaturas que matam,
Vendem a dignidade por pedaço de pizza,
Ou garrafa de coca-cola imperialista...
Quando me sodomizas
E rosnas coisas incompreensíveis em meus ouvidos,
Acho saboroso!
Quando confundes meu novo perfume Chanel 5
Com o cheiro das putas de porão de tua vida,
Acho detestável!
Quando sorris estupidamente à minha observação:
Amo alguns homens, amo algumas mulheres,
Acho adorável!
Ah, esse teu corpo, esse teu "cetro"!
Teu cérebro não é digno deles...
De barata, de rato, tenho nojo, medo;
De cobra, de aranha, prefiro as venenosas;
"Sou como Mae West:
Quando boa sou ótima,
Quando má sou melhor ainda..."
Há quem adore vir às minhas festas,
Sei receber os esfomeados...
Dizem que sou neurótica,
Dizem que sou bêbada,
Dizem que sou maldita,
Bobagem!
Sou apenas privilegiada que vive e morre
De tédio, infeliz, de solidão,
Velha, nesta louca cidade... (pág 44 e 45).
Do livro No Lado Obscuro da Lua-1998-
Pablo Ribeiro