Sonson
Desde a nossa meninice
fomos quase carne e unha
mais o azedo da pupunha
que brotava em peraltice...
Ele era assim mandão
e atrás eu não ficava
muito atrito despontava
mas pra mim ele era irmão...
Ao chegar a adolescência
se estreitaram nossos laços
as garotas dos amassos
nos uniam pela ardência...
Quantas delas namoramos
nos bailinhos dessa vida
mas nenhuma era atrevida
não pegavam em nossos ramos...
Depois disso nossos rumos
nos fizeram separados
nos levaram à outros prumos
sempre amigos, tão ligados...
O destino quis enfim
que virássemos dentistas
nos achávamos artistas
ao cuidar desse marfim...
Nesse tempo, porres vários,
adentrando a madrugada
papos mil, no quase nada,
mas na vida, solidários...
Dupla fomos na favela
trabalhando pelos pobres
esquecidos dos seus cobres;
consultório à manivela...
E depois infelizmente
em disputas, por razão,
nos perdemos, de repente,
dessa longa união...
Quis a vida arrebatá-lo
e levá-lo pro outro mundo
trago em mim pesar profundo
pois no fim, não pude amá-lo...
Saiba, meu grande amigo,
esteja onde estiver
a sua amizade, eu digo,
foi clarão, foi bem me quer...