COVARDES, COVARDES!
Eu rasgo meu coração
com os olhos marejados
dedilhando o violão
com uns tons desafinados
É triste a canção que toco,
sinto o olhar distraído
quando o vento vem eu soco
calado, enfurecido.
Permitam-me explicar
por que razão eu choro
se fico o violão a tocar;
calma, conto, não demoro
Vou começar do começo
como o matuto dizia,
mas se lembro estremeço
ah, quanta covardia!
Não se avexe, eu digo
e vou relatar agora
se não quer saber não ligo.
Espere, não vá embora!
Pois bem, eu vou começar
A contar uma história
Dessas de arrepiar
Ta aqui na memória
Havia um sujeito rico
dono de grande plantação
com manga, banana e trigo
ao redor de sua mansão
Cioso desse seu bem
mandou cercar o casarão
e não queria que ninguém
passasse por seu portão
As plantas do seu pomar
haviam frutificado
mas cadê alguém olhar?
só se fosse autorizado
Só que algumas crianças,
travessas em seu viver,
sonharam a esperança
daquela mansão conhecer
Moravam na vizinhança
e a mansão os encantava
daí a grande ânsia
de ver se nela entrava
E o único jeito que viram
foi o muro escalando
mas eles nem sentiram:
alguém estava olhando
O alvo dos pequeninos
era a manga, doce fruto
a delícia dos meninos,
jamais causa de luto
Eram três os sapequinhas
que correram apressados
à procura das frutinhas
logo no solo chegados
Súbito, um tiro troou
enquanto eles corriam
e a bala certeira chegou
ao alvo e todos caíam
Foi Joãzinho o baleado,
um tiro no coração
que o deixou estatelado
perto da manga no chão
Eu não quero continuar
esse caso me dá zanga;
como pode alguém matar
por causa de uma manga?