A MÃE QUE TIVE UM DIA
MINHA MÃE, A DONA FANY,
ERA FORTE COMO TOURO,
NUNCA A VI ENTRAR EM PANE
NUNCA A VI NÃO DAR NO COURO.
ESSA FORÇA ERA A PAIXÃO
QUE ELA TINHA PELA VIDA,
TEMPO RUIM, NÃO TINHA NÃO,
MESMO QUANDO ERA VENCIDA...
SUA VOZ ME DISSE... FICO!
SEU OLHAR ME DISSE... VOU!
ENCONTRAR O SEU TAVICO,
QUE TÃO CEDO... DEUS LEVOU.
PARA MIM FOI HEROÍNA
UM MODELO QUE SE SONHA
SE EU CALAR, NINGUÉM ATINA,
QUANTA LÁGRIMA NA FRONHA.
SE HOJE FAÇO POESIA
DEVO A ELA QUE INSPIROU
O MEU SONHO, A FANTASIA,
NOS NINARES QUE CANTOU...
IR COM ELA AO MERCADO
SEMPRE ERA UMA VENTURA,
COM SEU JEITO DELICADO
DE ESCOLHER FRUTA MADURA.
FERIADO ERA UMA FESTA
A FAMÍLIA REUNIDA
NESSA CASA QUE NOS RESTA,
NA LEMBRANÇA... TÃO QUERIDA!
NÃO ME ESQUEÇO O MUTIRÃO
DO TRABALHO, SEM VERGONHA...
ERA MILHO DE MONTÃO...
E AS DELÍCIAS DA PAMONHA.
MAS O PRATO PRINCIPAL:
“MILHO VERDE, FEITO BOLO,”
CUJAS SOBRAS NO FINAL
DAVAM BRIGA ATÉ COM ROLO...
...E DEPOIS DESSA AGONIA
NOSSA FESTA ERA TOTAL,
LÁ NA MESA UMA FOLIA
COM ESSE FEITO, SEM IGUAL...
OLHO CLARO, AMARELO,
OS CABELOS ONDULADOS,
SEU SORRISO, DE TÃO BELO,
NOS DEIXAVA APAIXONADOS...
SUA VIDA FOI BATALHA
DEDICADA AOS EXCLUÍDOS,
SEM JOGAR SUA TOALHA
ATENDIA AOS SEUS PEDIDOS.
ENSINOU-ME A RETIDÃO
E O CARÁTER DE GUERREIRO:
“PREFERIR A SUA MÃO
DO QUE TODO O SEU DINHEIRO.”
GENEROSA, ELA SABIA,
QUE DA VIDA NÃO SE LEVA
O JUNTADO, A MORDOMIA,
E OS FILHOTES DESSA CEVA...
EU MERGULHO EM MEU PASSADO
E A VEJO TÃO FACEIRA,
SEU BATOM INDA MOLHADO
E O SEU “ROUGE” DE PRIMEIRA.
PÓ DE ARROZ NÃO LHE FALTAVA
A ENFEITAR A VAIDADE
QUE ELA TINHA E EU GOSTAVA
E DA QUAL, SINTO SAUDADE...
É COM LÁGRIMAS NO ROSTO
QUE TERMINO ESSA POESIA
AO LEMBRAR COM TANTO GOSTO
DESSA MÃE QUE TIVE UM DIA.