CAFÉ DA MANHÃ REFORÇADO

Acordei leão faminto

Me esbaldando lá na mesa,

Tomaria vinho tinto

Com vieiras da nobreza

No pãozinho, eu fiquei,

Mais café com pouco leite,

Juras fiz, mas eu quebrei:

Ver os queijos como enfeite.

Eu comi broa de milho

Que eu não pude resistir!

Saí fora do meu trilho

Ao tentá-la consumir.

Tinha à mão iogurte diet

E da abelha, doce mel,

Degluti um suco ligth

Chá não quis pois era um fel...

Ovos mexidos sem sal

Misturados com presunto,

Nada disso me faz mal

Se se come tudo junto.

Mas eu quase que me esqueço

De falar de uma geléia

Que gostosa, é o avesso,

De mexer numa colméia.

Lembro bem a ciabata

Que é uma fina iguaria,

Doce de leite na lata

Pra comer na sacristia.

Mas aí fiquei vencido

E a tristeza se vingou,

Estava todo entupido

Minha boca se fechou.

Quase nunca como tanto

Tenho isso como regra,

Qual não foi o meu espanto

Ver que agora a fome é brega.

Pois a todos que eu contava

O meu corpo era pesado,

Grama a grama e o que sobrava

Me deixava encabulado...

Mas depois eu entendi

O tamanho do exagero,

Pois comendo, me perdi,

Envolvido em destempero.

Quando surge a tal da gula

Traz consigo a velha culpa,

Que de quebra, nos regula,

Sem ao menos dar desculpa.