A BELA ALFENAS
Eu nasci na Bela Alfenas
Tive infância de moleque,
Pés no chão junto às morenas
Que se abriam feito um leque.
Discorriam sobre tudo
Que lhes vinha ao coração,
Sempre em pauta algum sortudo
Que diziam: “Era um pão”!
Com meus primos eu brincava
De manhã até de tarde,
Mineirinho eu aprontava
Sem fazer nenhum alarde...
...Os cigarros “afanados”
Pra fumar lá na piscina
Nos faziam tão culpados,
Mas somente até a esquina...
Dona Fany enraivecida
Com as minhas travessuras
Açoitava o chão, vencida...
Mas jurando penas duras...
Eu deixava o respirar
Em suspenso sob a cama,
Só voltava a relaxar
Quando enfim findava o “drama”.
Quantas voltas eu já dei
Lá na praça da matriz,
Mil gibis ali troquei
Ocupado em ser feliz...
Bela Praça da Bandeira
Bem ao lado da “Efoa”,
Tinha pérgula faceira
E uma arena sem Leoa...
Aos domingos, Doze em ponto,
Matinê lá no cinema!
Ver o Zorro mais o Tonto
Resolvendo algum problema!
Ir ao campo da Cruz Preta
Assistir ao futebol,
Um programa bem porreta
Pois o time era de escol!
E o apito da Fumaça
Que chegava a estação!
Trem de ferro era cachaça
Da mais fina curtição...
As internas do Sagrado
Coração do ”bom” Jesus!
Judiavam do coitado
Que as mirassem em plena luz!
Seu Tavico me levava
Lá no tal Sapucaí,
A traíra ele pegava
Eu fisgava o lambari...
Clube Quinze que mantinha
Nossos velhos carnavais,
Muitos galos numa rinha
Muita briga entre rivais:
Piazzalungas e Siqueiras
Não podiam nem se ver,
Se pegavam por besteiras
E os motivos...? Vai saber...
Não me esqueço o Fumanchú
Que fazia propaganda,
Megafone tipo Itú
Mas tão frágil feito um “Panda”.
Quando havia voleibol
Lá na quadra dos “fardados”,
Minhas primas sob o sol
Com seus saques enfeitados!
Era a Sara mais Raquel
Que ao jogar mostravam raça!
Sempre em busca de um troféu
Com leveza e muita graça!
“Menina moça” alcunhada
A boate do Lomonte!
Para nós rapaziada,
Das paixões, foi ela a fonte...
Lembro a “Banda” do S’EURICO
No coreto lá da praça!
Quando passo lá eu fico
Preso à onda que me passa!
Lá de casa eu avistava
A chegada do avião,
Era um “Douglas” que pousava
Disparando a emoção!
E o “Campinho” das quitandas
Sobre a mesa circular,
Com cadeiras nas varandas
Para a gente conversar!
Não há como não lembrar
Da família reunida
Na “Piscina” a celebrar
Os prazeres que há na vida.
Lá no Rancho “Marta Rocha”
Com cuidados de primeira
Seu Elísio, acesa a “tocha”,
Nos levava à cachoeira.
Sobre a ponte das Amoras
Já no fim da madrugada
Lua cheia em altas horas
Dando adeus para a moçada!
Velho mestre da poesia,
Zé de Àvila, escultor,
Entalhando ele esculpia
Belos versos para o amor!
Quando lembro tudo isso
Vejo o pouco que contei,
Mas aos poucos pego o viço
E me estendo no que eu sei.