CAFÉ TROVADO E MORDIDO

Foi trazido pro Brasil

e plantado ele vingou,

fez da pátria, mãe gentil,

num minuto se espalhou.

Das arábias ele veio

pra deitar sua raiz,

desde então foi um esteio

das riquezas do País.

Quando ponho o pó na água

no limite da fervura

some toda minha mágoa

embutida na amargura.

Eu confesso que o café

me seduz com seu perfume

que penetra qual rapé

faz me aceso: Um vaga lume!

Acordar de manhã cedo

já sentindo aquele aroma

traz de volta o velho enredo

de outro dia que se soma.

Rosca, pão e ovo mexido;

broas, pão de queijo e até

yogurte bem batido

nada são sem o café.

Quando cai em minha boca

um café de qualidade

a papila fica louca

na maior felicidade.

Se entregando ao prazer

do pretinho tão gostoso

não consegue se conter

salivando em pleno gozo.

Muitos gostam mais de chá

uma herança dos Chineses

mas igual café não há

só na empáfia dos Ingleses.

Vejam só que coisa boa

esse tal de cafezinho

junta gente que está à-toa

pra falar de algum vizinho...

E lembrar essa beleza

do vermelho lá no pé

que completa a realeza

da flor branca do café.

Com a chegada desse “espresso”

o café virou “alguém”,

mesmo quando com excesso

já não tem pra mais ninguém.

Sendo espresso, digo é gafe,

adoçá-lo com que for,

em Paris da diva Piaf

no café põe-se licor.

Hoje em dia só se fala

nesse tal “café gourmet”,

bem tratado nos embala

tanto quanto um bom CD.

Nesse mundo dominado

por miséria e por conflito

o café é um aliado

do coitado e do aflito.

Requintado como é

necessita de cuidados

desde quando está no pé

aos seus “blends” variados.

A colheita é um momento

delicado, já se sabe,

o peão pede um aumento

e seu chefe quer que acabe.

Adubá-lo com ciência

combatendo as suas pragas

multiplica a competência

pra deixar as contas pagas.

O seu preço é regulado

pela bolsa de valores,

como sempre é derrubado

pelos fundos “vendedores”.

Só se houvesse a tal OPEC

ajustando a produção

para o preço virar cheque

bem polpudo em nossa mão.

Falo como produtor

sempre envolto em mil apuros,

apesar do seu labor

têm nos bolsos grandes furos.

Quem produz ao céu só pede

que a geada passe ao largo,

muito embora o que sucede:

“Muito fruto, preço amargo”.

Crença há que o produtor

abra sempre o seu bué...

quando o rico comprador

paga pouco em seu café.

São calúnias deslavadas

fazer dele chorão mor,

rolam lágrimas minguadas

comparadas ao suor.

Para o leigo estou abrindo

as janelas desse mundo

pra que saiba que estou rindo

mas que o choro está no fundo.

É verdade que a ganância

não nos deixa ver à hora

de vender em concordância

com a escassez no mundo afora.

Muitas vezes vem o medo

que nos faz precipitados:

ao vendermos muito cedo

sacas nobres por trocados.

Ser atento e um pouco liso

pra fugir da hora errada,

pois senão o prejuízo

ganhará de goleada.

Sendo agora bem sincero

nada como a tal da sorte,

pois juntar samba e bolero

nem Sansão que era bem forte...

Por café sinto paixão

como fosse namorada,

sempre espero que ele não

fique ausente na florada...