Pelas quadras da vida CCXXV
1
Hoje há quem sempre posta
Pedaços de suas vidas,
Fazendo, assim, a aposta
De serem bem aplaudidas.
2
Eu, pela praia caminhando,
Vi quando fui captado:
É que a moça se filmando
Flagra este pobre coitado!
3
Chamam na praia as palmas
Os pais de crianças perdidas...
Que lhes venham suas almas!
Que lhes venham suas vidas!
4
Na praia, o vendedor
É mestre de falas boas:
Traz pras vendas o sabor
De quem gosta de pessoas.
5
A moça lá da Argentina
Quitutes na praia vende;
Vou de espanhol pra menina,
E ela de pronto atende.
6
Na praia, vejo uma idosa
Sentadinha, assimilando
A brisa tão generosa
E com o passado sonhando.
7
Sempre, sempre, hoje eu falo
Que é preciso preservar
As praias, esse regalo
Do bom Pai, por nos amar.
8
Se eu não tenho lugar
Onde penso que eu tinha,
Na orla, assim devagar
Encontro uma paz só minha.
9
Cada um com sua história
Mais linha vai escrevendo:
O que guarda na memória
E o que vai esquecendo.
10
Simples a vida parece
Na calma que traz o mar.
De repente ele estremece
E vem a gente assustar.
11
É sinal que o permanente
Na vida o instável é,
Que não mais que de repente
Vem o que a gente não quer.
12
A palavra o mundo acalma
Inda mais quando é em verso...
Um pouco, assim, de minha alma
Deixo aqui no que converso.