GORDOS E MAGROS
GORDOS E MAGROS
Todo gordo que se preza
Come só o que deseja,
Faz mistério do que pesa
Não confessa nem na igreja.
A comida saboreia
Como fosse alguma presa,
Do café até a ceia
Seu olhar fica na mesa.
Sempre diz que come pouco
Desprezando as calorias,
Chega mesmo a ficar rouco
Inventando fantasias.
Mas se esbalda às escondidas
Mergulhado em guloseimas,
Com gorduras tão bandidas
Que se armam contra queimas.
Não há nada que o convença
De esquecer o macarrão,
Recebendo como ofensa
Quando falta o seu feijão.
Hora chega finalmente
De assumir o seu regime,
Sem querer, quase descrente...
Toma jeito, se redime...
Vejo o pobre do coitado
Seu quitute jogar longe,
Deprimido e conformado
Faz os votos, vira monge...
Carboidratos nem pensar
Folha, fruta e proteína,
Adoçantes de amargar
Fazem doce a cafeína.
Bolo, bala e chocolate
“Sonhos” presos ao passado,
Sem falar do abacate:
Com açúcar amassado.
Se vencer os seus desejos
Não será alvo de intriga
Vai malhar os seus molejos
Pra perder essa barriga.
Se vencido, se debruça,
Sobre um prato de comida,
Vejo a coisa ficar russa...
Vejo a jura ser rompida.
O suor pelo seu rosto
Traz à tona o seu anseio
De comer com muito gosto
Pão de milho e de centeio.
Quem está com ele à mesa
Recrimina com olhares
A volúpia tão acesa
Pelo aroma e paladares!
Chega à culpa nos vacilos,
Torturado em sua paz,
Faz pensar em quantos quilos
Perderá, se for capaz...
Nas pesquisas deposita
A esperança de um amanhã
Degustando aquela frita
Com cerveja e um bom suã.
Quanta inveja que ele sente
Quando vê que o magro come
Muito mais que muita gente
Repetindo: “Estou sem fome.”
Quando olhamos para o magro
Nós o achamos comedido,
Ledo engano, veja o estrago,
Se pesarmos o comido.
Eu conheço o que se passa
Na barriga do magrinho:
Carne gorda e muita massa
Mesmo assim ele é sequinho.
Impossível entender
Que foi feito do jantar
Só milagre pra fazer
Tanta coisa evaporar.
Bafejado pela sorte
Anuncia aos quatro ventos
Que pra ter esse seu porte
Já sofreu os seus tormentos.
Nunca vi tanta mentira
Ao falar de sacrifícios,
Come tudo que o inspira
Sem pensar nos malefícios.
Ao manjar só renuncia
Se estiver com dor de dente,
Assim mesmo balbucia:
Vou provar um bolo quente.
Duas faces da moeda
A coroa e um retrato,
Um confessa e não se queda
Outro arreda e vai ao prato.
Quando o magro tira sarro
De um gordinho rechonchudo
Corre o risco de um esbarro
E talvez algum cascudo.
Eu proclamo o gordo herói
Quando acha o seu limite,
Ele sabe como dói
Recusar algum convite.
Tanto o gordo, quanto o magro,
São amantes da fartura,
Ao magro, porém consagro,
O mistério da cintura.
AIMBERÊ ENGEL MACEDO