EU BRIGADOR DE MIM

O que de fato me anima

Ao fazer a minha loa

É que quando acerto a rima

Dou uma gargalhada boa

Assim extravaso a alma

Na onda da emoção

E o verso então acalma

A corda do meu coração

E então sigo trilhando

Os caminhos encantados

Com os meus versos brilhando

Numa tela projetados

Minhas façanhas vou contar

Com bastante fé e esmero

Mas queira me perdoar

Se tiver algum exagero

No dia que amanheço

Com um presságio ruim

Visto a calça pelo avesso

E sou brigador de mim

Neste dia o que me atiça

É a vontade de brigar

Faço padre dizer missa

Santo descer do altar

Faço quem não tem dinheiro

Seu rumo logo mudar

Sair correndo ligeiro

Comprar fiado e me dar

Acredite se quiser

Eu não vou forçar ninguém

Pois se isso eu fizer

Vou lhe machucar também

Sem farinha faço pão

No deserto planto horta

Mato cobra com a mão

E mostro a cobra morta

Mergulho nos oceanos

E nos vales mais profundos

Transito todos os anos

Por todas as partes do mundo

Viajo pelas estrelas

Da minha linda fantasia

Pois quando vou lá vê-las

Renovo minha alegria

Seguro nos raios do sol

Tiro sal d'água do mar

Pesco peixe sem anzol

Na lua posso sentar

Nos sete mares navego

Sem navio e nem canoa

Se perguntarem não nego

Durmo dentro de uma lagoa

Com ninguém tenho intriga

Você então pode crer

Mas se entro numa briga

Boto todos pra correr

Um dia me escolheram

P’ra brigar numa mutreta

Mais de cinqüenta correram

Somente com minha careta

Minha rapidez foi tamanha

Lá para a serra do mel

Apanhei dez mil castanhas

Na aba do meu chapéu

Domo animais ferozes

Até o leão mais valente

Grito com as mais altas vozes

Com quem cruzar minha frente

Já na minha pescaria

Mato os peixes no porrete

E vou juntando na bacia

Sem uso de molinete

O meu sopro é tão forte

E não é mentira não

Que o ar vai ao pólo norte

Rodando como um pinhão

Dei um chute numa bola

E a bicha foi tão ligeiro

Que só o sopro da sola

Matou o pobre goleiro

E é porque não sou atleta

E também não sou ciclista

Não ando de bicicleta

E nem corro lá na pista

Escrevi um livro todo

Sem caneta e sem papel

E o enterrei no lodo

De uma nuvem lá no céu

Derrubo um boi valente

Sem corda e sem gibão

Só em passar em sua frente

Ele cai teso no chão

Assim sou bastante macho

Daquele que masca fumo

Não preciso de capacho

Para seguir o meu rumo

Gosto muito do meu jogo

E o faço todo dia

Pois ainda tiro fogo

Na casca da melancia

Vou encerrando assim

Esta trova exagerada

Despeçam então de mim

Muito obrigado: por nada

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Palavras vão surgindo

parecendo chuva fina

e você vai esculpindo

lindas trovas, bela rima.

(Gilbamar de Oliveira)