Pelas quadras da vida CLXXXIX

1

Tantas quadras eu perdi,

Não por meu esquecimento,

Mas porque não concluí

O melhor do pensamento.

2

Na vida, algo ensinei.

Na vida, muito aprendi.

Verdade!... Tudo que sei

Devo ao tempo que vivi.

3

Estou certo: a poesia

Tem mesmo grande encanto;

Bons momentos de magia

Posso ler neste Recanto.

4

O amor que a gente tem

Pela mãezinha querida

É dádiva que nos vem

Dos céus pra nossa vida!

Não há filho tão ingrato

Que um dia não volte atrás

E conserte algum destrato

A quem só amor lhe traz.

5

A quadra que, às vezes, faço

Quando não fica tão boa,

Paro um pouco e refaço,

Lendo Fernando Pessoa.

Não lendo, para imitar...

Lendo, sim, para aprender

A arte de poetar

E a arte de viver.

Disse ele, certa vez,

Que o que faz é incompleto,

Não algo, toda vez,

– E penso que está certo.

“Querendo, quero o infinito”,

Disse a celebridade,

Que fecha explicando o rito:

“Fazendo nada é verdade.”

Assim, cheio de defeito,

Vou aqui, vou acolá...

Claro! Não serei perfeito,

Mas eu quero melhorar...

Inda que pela metade

Seja minha perfeição,

Valeu, valeu a vontade

De fazer bonito. Não?