Nuvens algodoadas
TROVADORISMO (CANTIGA LÍRICA DE AMOR)
Sentado cá estou, o céu a mirar.
Vejo alvas nuvens, pelo sol a clarear.
Não as posso tocar, mas macias as posso sentir.
Como a sua pele, minha Senhora, distante.
Sofro eu, essas linhas a vós, suspirante.
Lastimo-me pela distância,
mas conforto-me pela vossa existência.
Os raios de sol iluminam,
Vossa beleza e vossos gestos, que a eles também animam
Suspiro profundo, profundeza que se confunde com o próposito
Espero ser, por toda eternidade, de sua reverência, o depósito.
Aflijo-me, por muito pouco não me enlouqueço.
Fitar-te, e enamorar-me, disso, eu não me esqueço.
Posso imaginar, por sobre as nuvens algodoadas, a deitar
À espera daquele súdito, seus caprichos realizar.
Pois ainda que indigno, elejo-me.
Quero aos vossos pés estar.
Se nada me pedires, estátua ficarei.
É meu destino. E ainda que não o fosse, contra a natureza, faria-o.
Por vós e para vós, ouso dizer: Eis-me!