Uma homenagem a Guerra Junqueiro, Para quem goste! Brasileiros e portugueses irmanados na mesma lingua,no mesmo sentir

Minha Mãe, Minha Mãe!

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,

Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.

Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares

Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,

Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.

Era a hora em que já sobre o feno das eiras

Dormia quieto e manso o impávido lebréu.

Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,

E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,

Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...

E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,

Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,

Eu balbuciava a minha infantil oração,

Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento

Que mandasse um alívio a cada sofrimento,

Que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Por todos eu orava e por todos pedia.

Pelos mortos no horror da terra negra e fria,

Por todas as paixões e por todas as mágoas...

Pelos míseros que entre os uivos das procelas

Vão em noite sem Lua e num barco sem velas

Errantes através do turbilhão das águas.

O meu coração puro, imaculado e santo

Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,

Para toda a nudez um pano do seu manto,

Para toda a miséria o orvalho do seu pranto

E para todo o crime a seu perdão de Pai!...

(...)

A minha mãe faltou-me era eu pequenino,

Mas da sua piedade o fulgor diamantino

Ficou sempre abençoando a minha vida inteira,

Como junto dum leão um sorriso divino,

Como sobre uma forca um ramo de oliveira!

Guerra Junqueiro.Poeta Português.
Enviado por Quo Vadis em 01/02/2023
Código do texto: T7708963
Classificação de conteúdo: seguro