Teorema Tupi Iorubá no Sertão da Ressaca
Chegada das bandeiras, festa religiosa, tudo tão bonito,
Para quem alimenta da povoação o mito,
Pela fé, evangelho, igreja, ideologia da alienação,
Que justificou a morte pela pregação,
Sob a bandeira da santa, da pomba, da segregação,
E deu a João a tão sonhada patente de Capitão.
Já não importa se foi escravo ou não...
Pois seus serviços à coroa o fizeram maior,
De um simples bandeirante, agora Capitão-Mor.
No sertão da ressaca, João. Em Palmares, Furtado! Todos iguais!
Bandeirante atira, coroa enriquece, mitras tiram do espólio a sua parte...
E os indígenas e pretos?
Tombaram no sistema famigerado.
E para quem acha que a falsa história contada exime
Da morte do indígena, do estupro da preta, dos lusitanos crimes...
Eu digo: Não! Não exime... nem sequer por um instante.
Ainda que da igreja coadjuvantes, os mercenários da coroa portuguesa
Não passavam de covardes meliantes do velho mundo.
Quem fique bem claro, não foi povoação e sim invasão e roubo!
E não se esqueçam do sequestro e escravidão dos povos africanos
E da vil catequização do Ofício Santo.
Quanto aos malditos 50 mil réis que calaram a voz de Zumbi?
Coitado! Resistente e indignado, viu Palmares ser invadida
Sob o silêncio conivente das suntuosas e gananciosas mitras.
O mesmo ódio colonizador que silenciou Palmares ainda persegue os povos pretos em cada esquina, em cada dança, em cada Orixá.
Religião dos pretos é macumba, é do diabo!
Não é coisa de Deus, da luz do dia
E faz-se um enorme silêncio diante da pedofilia...
Mas eles fazem feitiçaria e consagram comida,
Grita o pastor que vende por 50 reais um potinho de água ungida!
Furtados de Mendonça, Bernardos e Domingos ainda querem privilégios!
Armados, não buscam mais sangue nos quilombos,
Mas nas quebradas e favelas...
Antes, servos da coroa portuguesa.
Agora, da vil classe burguesa.
Fardados, matam pretos nas esquinas...
E ainda dizem que morrer de bala perdida é sina,
Para quem em vez de dinheiro teve a ousadia de juntar melanina.
Experimenta nascer na favela sem eira e nem beira
E ainda ter que engolir a pregação de Antonio Vieira.
Mas me responda no rastro da poeira...
Dá para assistir calado a exploração do sistema,
Que tem a igualdade por tema,
E a morte de mulheres, indígenas, pobres e pretos por lema?
Que diferença faz se usam títulos, ternos, batinas, togas ou fardas?
Morte é morte... discurso é discurso... sistema é sistema!
Sobre Santos e Ofícios, ainda tem uma questão...
Para Antônio Vieira, sim, uma questão...
Vieira, dos Jesuítas condão, como os teus olhos, sob a santa unção, puderam ver luz na matança e na escravidão?
Há alguém que possa responder
Que sabor brotou na boca da santa branca,
Quando ao som de promessas
Endureceu o frágil coração em apenas uma conversa
E fez uma barganha com João da Costa, em nome da fé?
Após a vitória de João, comemoração em Portugal e na Santa Sé.
A barganha foi tanta que até a cruel escravidão passou batida sob os olhos da mesma santa. Tu acreditas nisso?
Disparos ecoaram no sertão da ressaca
Sangue, corpos indígenas estirados, dor...
E ela nada disse a João! Apenas manteve o sertão em calma.
Afinal de contas, eram infiéis sem alma...
Pelo visto, a barganha foi do agrado dela!
Pois, em troca dos corpos, no alto da conquista, uma capela...
Bela, para ela, em nome dela... Enquanto tantos numa cidade sem moradia!
Cavalos, bandeiras, missas, morte e conversão forçada de indígenas, escravidão e conquistas...
O pobre povo segue com fé, sem sentir o cheiro da morte
E sem saber metade da história que por trás dos mitos do velho mundo se esconde.
Matança e racismo, pela lei do mais forte!
Mas fiquem cientes da vossa fonte:
Sim, o vosso discurso que vem por trás da exploração!
Racismo, encarceramento, dor, exclusão...
A cada preto ou indígena que tomba pelo mesmo sistema,
Nasce com isso, para vós, um dilema:
A natureza, reescrevendo o mesmo poema,
Ou um novo roteiro de cinema,
Nos traz ao mundo novamente, fazendo da vida um cais...
Ressignificando em nós a mesma força dos nossos ancestrais.