Um linguajá naturá
Airam Ribeiro
Quero escrevê um pôco
No linguajá caipirês
Que aprendí cun os cabôco
Eu cito agora pra ocês.
Os meu tiradô de leite
Trabaiava na minha roça
Eles fazia os biête
Mermo cum suas mão groça.
Pôca gente intendia
O iscrito do recado
Eu pegava eles e lia
Devagá e cum cuidado.
Muitas vêiz dizia assim
Um bezerro aqui nasceu
Era o recado para mim
Qui só quem intendia era eu.
Outras vêz remédio pedia
Prum ôtro bizerro duente
Aqueles biêtes qui eu lia
Eu inté ficava contente.
Apezá de suas iscrita
Cujos erro era pôco
Eu nun axava esquisita
Os palavriado do cabôco.
E assim eu fui aprendeno
In cada carta qeu ricibia
Assim hoje sigo escreveno
O qui aprendi naqueles dia.
Nun tenho mais gado na roça
Purque a seca levô tudo
Tô alembrano aqui na paióça
Cuma foi bom estes estudo.
Estou fazeno agora
Mim sintino aqui sozin
Sinto sodade a toda hora
Do meu vaquêro Joaquim.
Aqueles qui nun gostá
Desse linguajá natural
Nun pode nem visitá
Os povo da zona rural.
Aqueles povo sofredô
Que tem suas pôca defesa
Mas que pranta cum amô
O alimento de sua mesa.
Airam Ribeiro