Do que preciso no retiro

Movediça, arrastada decisão essa de retirar-se

dos tantos afazeres sempre para alguém outro;

Tal caminhada consumira-me um bom lustro

e, entre vacilações, fez-se, então, a catarse.

De mim, aprendendo a me ocupar comigo

como se fora, de imediato, imerecido castigo;

Tão parcos gestos de complacência reflexiva

que me interrogo como ainda permaneceu vida.

O tempo, esse negligenciado, agora me pertence

para atribuir-lhe bom valor ao usá-lo eu mesmo;

O horizonte abre-se para o que me convence

de quão imperioso é afastar-me do vagar a esmo.

Aproxima-se o tempo de libertar-me dos tantos fardos

que se foram acumulando ao longo dos anos,

produzindo chagas e chagas como que de dardos,

arrastados que vinham sendo por zelos inumanos.

Ah, os relacionamentos que se tornaram tóxicos

haverão de ser céticos, nulamente pragmáticos;

Extirpados, como dum canteiro as ervas-daninhas,

sem fazer falta, pois provêm de gentes comezinhas.

A reforma íntima tratará o entulho de pensamentos,

emoções, sentimentos, atitudes e comportamentos;

Especial zelo demolidor receberá a fábrica de ilusões,

companheira dileta dos fardos, das toxinas e das paixões.

Restará a complexa empreitada de aprender a amar

aquele que me é quase um estranho: sim, falo de mim!

Na intimidade comigo reconheço-me, aceito-me devagar

e valorizo-me, consciente de ser a melhor flor do meu jardim.