A LENDA DAS ROSAS PERDIDAS
“O Regresso de Gilgamesh”
Narra uma estória muito antiga,
Que nestas trovas vem contada,
Que Gilgamesh sofreu fadiga
Na sua Viagem anunciada…
Rei de Uruk foi Gilgamesh,
Seu estorial calou bem fundo,
Depois de travada dura guerra
Tornou-se soberano do mundo.
Passou a vida em aventuras
Com amigos e muitos afetos,
Teve sucessos e amarguras
Sem perder os caminhos rectos.
Passou montanhas e florestas,
E atravessou lagos e rios
Construiu cidades e fortalezas,
Nunca temeu ruins desafios.
Atravessou mares e oceanos,
Por entre armadilhas e perigos,
Foi grande Rei, anos e anos,
E destroçou os piores inimigos.
Fez justiça e ajudou os fracos,
Foi poderoso, mas justiceiro,
As suas Leis deixaram marcos
Nos seus templos, era o primeiro.
Pelos deuses foi protegido,
E pelo povo sempre adorado,
Nunca na vida foi vencido
Porque era um Sábio prestigiado.
Gilgamesh tinha um segredo,
Entre paixões humanizadas,
Dormia entre rosas sem medo
Se elas nunca fossem cortadas.
Foi avançando em sua idade
Com o sonho de ser imortal,
Para ele a única verdade,
Era voltar à sua terra natal.
Mas uma tragédia aconteceu
Em todos os belos jardins
Morreram as rosas do céu
Como anúncio de pestes e afins.
Chamou p´ lo barqueiro da vida
Que lhe preparasse o regresso.
Ele prometeu-lhe uma saída
Com comodidade e bom preço.
Chamou também a deusa da sorte,
Ishtar, a das Sete Partidas,
Que lhe dissesse antes da morte
Onde buscar as rosas perdidas.
- Barqueiro, adestrado barqueiro,
Tira teus olhos desta paisagem
Leva este Rei, feito romeiro,
Até ao final da sua Viagem.
Entre este lugar e a Cidade
Há um lago de águas profundas
Ali há rosas de imortalidade
Que dão cura às chagas imundas.
Colhe delas um belo braçado
Tira os espinhos, perigo prás mãos,
E leva-as com cuidado apressado
Pra Gilgamesh e seus cortesãos.
Assim fez o barqueiro, diligente,
Fazendo jus ao seu galhardete,
Levou o barco, indo na frente,
Preparando um lauto banquete.
Rosas perdidas, rosas achadas,
Sabores, aromas, fino alimento
São o descanso das madrugadas
E a garantia dum condimento.
Condimento pro corpo e pra alma,
Deuses amigos, belos conselhos,
Reino de Uruk, de paz e de calma,
E Imortal pra novos e velhos.
Os heróis são sempre imortais
É o que confirma a Natureza
Mas, entre as mezinhas reais,
Há as rosas de grande beleza.
Mas ninguém lhes tira os espinhos
E mesmo que sejam selvagens
Compete correr bons caminhos
Para que haja felizes Viagens.
Frassino Machado
In TROVAS DO QUOTIDIANO