ESPÍCULAS 2020

Soa uma voz

Numa canção

Qual breve pedido

Numa forte oração.

Uma folha caiu

Dum já ido outono

Pois lhe aturdiu...

Seu excesso de sono.

Em coma vigio!

Pelos corredores

O planeta faliu!

Num mundo de horrores.

Sentiu arrepio...

Na febre bem alta

Um vírus arredio

A vida lhe assalta!

Aqui falta o ar

Na Inspiração

Sujeira promíscua

Lesa a multidão.

Furtaram o leito

O respirador...

Ligaram o frio

Sem um cobertor!

Discursa o Homem

Tão douto na lei!

Diz sanar a fome

E rouba além...

Da impunidade!

Aquém de todo bem,

Furtou a saudade!

Até a dor que não tem!

Assaltou o doente

Em inconsciência

No leito de morte:

Quanta indecência!

Diz ser excelência...

Quais as tantas perdidas?

Na tenaz indigência

Das promessas fingidas.

O legislador

Reedita uma lei:

Se for por amor...

Somos meros reféns.

Promete o tudo

Que nunca nos vem!

E ao seu reduto...

Assina um "amém".

Além da Doutrina!

Se furta a missão

Se finge alquimia

Com a batuta na mão.

A dor se calou

Nem pode gritar

A fé calejou...

De tanto rezar.

O sol despertou...

Querendo ajudar

Mas logo apagou

Por a si se queimar.

Em raio, aturdido...

Tudo derreteu!

E o pobre pinguim

Sua geleira perdeu.

Cantou um passarinho

Fugindo das chamas

Buscou pelo ninho

Afundado na lama.

Todo Rio borbulhou...

A vazar detergente!

Tentando limpar

As vidas das gentes.

Soou a poesia

Pelo meio fio...

Em meio a agonia

Ninguém a ouviu.

Só pediu licença

Às vidas no chão...

Para em reverência

Versar ao irmão.

Ceifando as espículas

Se pôs a cantar

Em verso é mister:

Todo o mal sanear.