Pelas quadras da vida V

1

Passam horas, passam dias,

Meu lugar é minha casa.

Em tempos de pandemia,

O isolamento me arrasa.

2

Vejo aqui desta janela

A criança do vizinho.

Bom pintor faria a tela

Do menino, tão sozinho.

3

Ora o padre, ora o pastor,

Lá no templo tão deserto.

Rogam ao bom Nosso Senhor,

Neste tempo tão incerto.

4

Quando disse que saía,

Fez surpresa alarmante...

Ainda bem, eu diria,

Pois foi só comprar calmante.

5

Moça linda, bela sim!

Do rosto toda a beleza

Não se revela pra mim,

Nem pra você, com certeza!

6

A doença era de rico

E agora pegou o pobre.

Santo Deus, como é que eu fico?

Eu não tenho berço nobre.

7

Pra rua foi bem depressa,

Sentiu-se como pelado.

– Meu velho amigo, ora essa!

Tu não estás mascarado...

8

Estou certo, ó meu Deus,

Que a ciência anda confusa...

Nos estudos que são seus,

A dúvida é grande musa.

9

Na governo, é confusão.

Um fala, outro desdiz...

Que pena! Esta nação

Não é a que sempre quis.

10

Professora e já senhora

O bom giz largou de vez...

No seu jeito de agora,

Diz na tela e a turma vê.

11

Ir às compras, ir à rua

Mostra a vida rigorosa.

Já boate e moça nua

É saída perigosa...

12

Fosse o mundo mais humano,

O capital mais sereno,

Momento assim tão insano

Ficaria mais ameno.