A CARTA BRANCA E A CANETA

A carta branca guardava seus segredos

Sobre a mesa do gabinete achava-se poderosa

Via em redor acontecerem diversos enredos

Transitava em sua competência discreta, morosa

Adorava que soubessem de sua origem foral

Era um papel fino, merecia bela embalagem

Feita para escrita importante, nada trivial

Odiaria ser usada para mera panfletagem

Às vezes se aspirava para sentir seu perfume

Não poderia aparecer em relaxo

Muito menos cheirar a curtume

Dos couros queimados ao longo do eixo

Também se apalpava para sentir sua veracidade

Já que há tanta hipocrisia neste mundo

Precisava ter certeza de sua identidade

De que não viera de um calhamaço imundo

Mãos limpas a manuseavam com carinho

Nem ligava quando a marcavam com chancelas

Depois selavam com um bom vinho

As institucionais conversas paralelas

Até que um dia surgiu do nada

Uma caneta preta MontBlanc

Dizendo que esperava desde a alvorada

Para lavar a roupa suja no tanque

Ficou sem entender o trocadilho

Já que a empunhava um desvairado

A grampeou como quem aperta um gatilho

A sujou não ligando para seu estado

A tinta da cor fétida de carne apodrecida

Teve o efeito de incineração

Falsa caneta que a fez pensar protegida

No que lhe restava de alvura deixou um bordão

Neste país como sempre tem sido

Ou em qualquer lugar do planeta

Você já devia ter sabido

Melhor que blindada carta branca é ser poderosa caneta