A HIPOCRISIA
------- I --------
Manchado é o teu ‘manto’
E transparente não é o teu ‘véu’.
Astuto, eis que provoca pranto,
E nunca terá vez lá no céu.
-------- II -------
Brinca de ser alguém muito agradável,
Transparece aquilo que não é.
Por fora, mostra-se ‘seda’ e por dentro, miserável.
E só enxerga o seu próprio pé.
------- III -------
A língua, veneno de cobra,
O coração de tão duro, dá nó.
Soberba é o que tem de sobra,
Mas o fim será sempre o pó.
-------- IV -------
Vive como verdade, as suas mentiras,
Come sardinha e arrota caviar.
Suspira desejos cheios de iras,
E conspira maldades, sem aliviar.
-------- V -------
Semblante sonso e mascarado.
Astuto como a serpente,
E no seu íntimo, amargurado.
Sorriso largo, mas prepotente.
-------- VI -------
Distância, queremos dele.
Pois nele verdade não há,
Quem vive junto com ele,
Sente na pele o que existe lá.
Ênio Azevedo