NAS BULHAS DO TEMPO
I
Passa o tempo apressado
Passa sem querer passar...
Passa mesmo empurrado!
Se emperrado de ficar.
II
Passa o tempo inconformado
Com seu jeito de deixar
Tudo atrás, em qualquer lado
Que ora deixou de ficar.
III
Passa o tempo atordoado
Com o destino de levar
Todo o tempo acumulado
Disfarçado de parar.
IV
Passa só em tempo presente
Jamais ousa acreditar!
Que o passado é um ausente…
De futuro só a alcançar.
V
E se só por um momento
Se distrai a acreditar
Na paragem a um alento:
Tempo continua a voar.
VI
Passa o "grande e o pequeno"
Passa o douto e o sem saber
Passam todos os desalentos...
Até o que vai acontecer!
VII
Passa o rico e passa o pobre:
Todos ao mesmo lugar!
Na passagem que tão nobre
Passa a todos ensinar.
VIII
Passa o humilde e o arrogante
Dormentes na ilusão…
Jamais passam como dantes:
A alegria e a aflição.
IX
Passa o tempo em hieróglifo!
Qual passagem incrustada
Por um verso manuscrito
Na rocha petrificada.
X
Passa o verso conhecido…
“Passa o boi, passa a boiada”
Passa o pensamento inscrito…
Na poesia indecifrada.
XI
Passa o susto, passa o grito
O labor de toda estrada,
Ao dormente do destino
Passa o tempo que transpassa.
XII
O amor que de passagem
Só passou a não ficar
Passa e leva na bagagem
Só a ilusão de não passar.
XIII
Já a saudade que dormente
Também passa a acenar…
É a dor de toda gente
Que igual passa sem parar.
XIV
Passam as bulhas rebatidas
Já cansadas de soar
De repente…adormecidas
Sopram a hora de passar.
XV
Passa o tempo feito nuvem…
Renublado de emoções
Só não passa a inquietude
Que pulsa nos corações.