A ALEGRE GLICÍNIA
“Parafraseando o poeta Abel Cunha”
Pelas saudades da terra
Agitam-se os sentimentos
Naquele arfar qu´ encerra
Todos os encantamentos.
Um piano dentro da sala
Numa distância infinda
Anda perdido, não fala
E parece que toca ainda…
“Um canto que soa triste”
Na busca de uma memória
É uma elegia que resiste
Cimentada pela história.
Toca piano, toca bem
Toca sempre uma balada
Da saudade de alguém
Que partiu de madrugada…
E uma glicínia florida
Co´ aroma de primavera
Sentiu-se envaidecida
Alegre por ser quem era.
Ao ouvir tocar piano,
Sentindo-se cinderela,
Pensou de coração ufano
“Que seriam as mãos dela.”
Era Gaveau o piano,
Ali fiz aprendizagem,
Batia nele todo o ano
Numa teimosa viagem.
Por vestir leve farpela
Chegando quase a suar
Aquela mesma janela
Abria de par em par.
Com vizinha tão feliz
E alegre com toda a gente,
Qualquer terra deste país
Ficaria assim contente.
O relógio de sala altivo,
Embalado pelo sonho,
Com o piano, ao desafio,
Batia as horas, risonho.
Ao som do canto moreno,
Entre o relógio e o piano,
Voga meu sonho sereno
Num vazio soberano…
Abraçada na janela
Exultava a trepadeira
Felizarda, toda ela,
Por morar ali na Beira.
Frassino Machado
In TROVAS DO QUOTIDIANO