TROVAS DA SOLIDÃO
“No Palácio Baldaya, Dia da Poesia”
Há solidão nesta Sala
Ao abrigo da Natureza
Entra o sol pela janela
E Poesia? É uma tristeza…
Hoje é Dia da Poesia,
Todos eles deveriam ser,
Haveria grande harmonia
E a vida seria um prazer.
- Para mim é Dia santo
Porque sou sério e poeta
Quero fartar de encanto
Esta minh´ alma inquieta.
Vivemos num mundo agreste
Que não tem eira nem beira
Não há nele nada que preste
E é tudo negócio de feira.
Bem o disse mestre Gil,
Quando a vida descreveu,
Por burrice, em cada mil
Um humano ensandeceu.
Não há honra nem respeito,
Falta a fé e a devoção,
Da moral não se vê jeito
E ninguém tem coração.
Dar exemplo e testemunho,
Cada gesto é só fumaça,
Corrupção em cada punho
Faz da vida uma desgraça.
Ninguém vê autoridade,
Nem governo competente,
A justiça é só vaidade
Com farelo na sua mente.
Educação, nem falar,
Só se vê devastação,
Com a poesia, se calhar,
Ninguém cura a solidão.
………………….
Chegaram, porém, Dona Osório
E Dona Beca - um primor! -
Faltam poetas, é notório,
Mas antes assim que pior.
Falou-se de Sena e Sophia,
E também d´ Eugénio e Pessoa,
Discutiu-se a poesia
Nesta sossegada Lisboa.
Até Bocage se cantou
A música andou no ar
A tertúlia tarde acabou
Com vontade de voltar!
Frassino Machado
In TROVAS DO QUOTIDIANO