NOTAS PROMISSÓRIAS
São tempos avassaladores
De perdas,de inconsciência total!
São gritos de tantos horrores
Das dores, nunca vistas igual.
Fulgura a dor da incompetência
Plantada no chão do abandono
E somam-se também negligências!
Às vidas de quaisquer dos entornos.
São gentes de sina explorada
De sonhos vãos e soterrados
Crianças que seguem nas valas
Dos Homens “grandes” e desalmados.
São palmas hipnotizadas
Que a própria desgraça aplaudem!
Sequer desconfiam acordadas
Do males que as suas vidas consomem.
São gentes na senilidade
De vidas totalmente esquecidas
Depósitos de tanta fragilidade
Nas vias que não têm saída.
Bandeiras seguem“empoderadas”
No nada das vias perdidas
Enquanto sucumbem nas estradas
Futuros das vidas esquecidas.
A dor agoniza ao alto
A procura de um salvador...
Palavras soadas ao vento
Só fingem escutar sua dor.
Doendo sobrevive no peito
A dor em franca disritmia...
Num folego rejeita os rejeitos
Do tudo em parca sobrevida.
São covas sempre entreabertas
A espera dum novo discurso!
Aonde ecoa encoberta
A farsa dum corrupto obtuso.
E como milagre existe
De alguma forma acontece!
A dor ainda sobrevive
E tenta rogar-se em prece.
Qual sopro que nunca se explica
A dor também se empodera
Em súplica legítima de vida
A dor toma forma de fera.
Aos gritos então vocifera…
Acredita ter sido ouvida
Tão logo a verdade desterra
Toda vida que jaz destruída.
Velhacos de todas as eras…
Lançaram ao cerne dum chão
Na farra das falsas primaveras
Sementes de toda degradação.
A dor então grita mais alto
Não ouve sua interlocução
Só sente mais um tiro ao alvo
No peito do que tomba em vão.
Não há nunca mãos responsáveis
Que paguem a tragédia da hora!
Os donos do caos, os respeitáveis!
São vozes só de falsa desforra.
A dor logo tenta de novo!
A ouví-la...só há mais um holofote:
Enquanto a vida despenca do morro...
A audiência tem mais uma consorte!
São dores de tantas famílias…
São dores de toda Nação!
São dores sempre sem guarida
São dores dum todo coração.
Há doutos que discutem as matérias…
Tão sábios em suas vãs teorias
Que nunca evitam as tragédias
No enredo são tristes alegorias.
Os rios, os mares, as matas
Só seguem o mesmo destino:
A fauna de vida malfadada
Se une à do Homem destruído.
Em meio ao drama da fauna
O Homem se diz ser inteligente...
Mas sinto seu drama de alma:
De ser mais uma fauna doente.
A lama, o fogo e o desgosto
Soterram as vidas do campo,
Urbanas vidas são sufoco
Vertentes dum rio em pleno pranto!
Meandros dum tempo furtado
Nos braços da corrupção…
Que trouxe o todo malogrado
Do apodrecido dum chão.
Os pássaros procuram seu ninho
Não têm para onde voltar...
O Homem não tem um carinho!
Que o faça ressuscitar.
As flores suspiram assustadas
Lamentam o seu solo lodoso
Num pântano são cores desbotadas
Só choram seu passado viçoso.
Promessas levadas ao vento...
E de toda nossa devastação
Ficou-nos apenas o alento
De sermos uma grande Nação.
São tempos perturbadores...
Sem ética, sem moral, sem decência...
De veios tão destruidores
Que vivem da toda decadência.
A dor então tomba morrida
Sem jamais enxergar sua glória
Morreu sem ter sido ouvida
Qual flor no féretro da própria flora.
São tempos avassaladores…
Por tantas promessas inglórias!
Só resta em meio às nossas dores
O resgate das notas promissórias.