PENHA 2018, TROVAS DA MINHA ROMAGEM

«A caminho da Penha»

De cá, de Lisboa, me embarco

Pelas onze e trinta em ponto,

E p´ las quinze e trinta, eu conto,

Chegar ao destino que abarco.

Para Guimarães de viagem,

Esperando lá chegar bem

Boa saúde, como convém,

Será esta a minha romagem.

Eu vou a caminho da Penha

Num gesto de peregrinar,

Cheio de fé espero lá chegar,

E a bênção da Virgem me venha.

Pulula cá dentro de mim

Sincera alma a fervilhar

Ardendo em fé viva sem par

Num lauto banquete sem fim.

De comboio Intercidades

Viajo num franco transporte

Deus me dê toda a boa sorte

Para que saiam as ansiedades.

Discreto pranto de comoção,

Uma jovem a meu lado sofre

Escondendo na alma um cofre

Com mistérios de coração… (?)

- Ó Senhora da Penha, atende

A jovem qu´ a meu lado vai

Pois todo o sofrer sempre atrai

A quem todo o outro compreende.

A Santarém estou chegado,

Em manhã de sol radioso,

Sinto-me um pouco ansioso

Dentro dum trem superlotado.

Já passei no Entroncamento

E agora atravesso Pombal,

Terminei de ler o jornal

Sem novidades de acrescento…

Li apenas que, certo ministro,

Apresentou plenas garantias

Da CP crescer em melhorias,

Mas onde é qu´ eu já ouvi isto?

Oiço a anunciar Alfarelos,

Cerca de metade do caminho,

Bebo de água um poucochinho,

Água da Penha, sete-estrelos.

Agora, Coimbra no horizonte,

De nome “B” convencional,

E o famoso Estudo Geral

Lá muito no alto e defronte.

Mais adiante corre o Mondego

Por um Choupal esverdeado,

O trem não circula atrasado

E sente-se cá mais sossego.

Entraram, porém, passageiros

Buscando para si lugar

Um ou outro a minguar

Pois nem todos são hospedeiros.

Estendem-se vinhedos e pomares

Quase prontos para a colheita,

Será que haverá boa receita

E um proveito de bons ares?

Vem a estação de Pampilhosa,

Fala uma voz anunciada,

Numa atmosfera enrolada

Em paisagem meio brumosa.

A cidade de Aveiro à vista,

Muitas pessoas vão a sair,

Para nova viagem seguir

Numa ansiedade alquimista.

E, eis a cidade de Espinho,

Sinto na pele adrenalina,

E o sol, a rasgar a neblina,

Deixa mais aberto o caminho.

O trem já ultrapassou Gaia,

Deslizando por sobre o rio,

Campanhã está ali por um fio

Com outra gente e outra laia…

Gente e mais gente que saiu

Há mais largueza, coisa rara,

Segue o tempo e ele não pára

E Lisboa ninguém mais a viu.

Saiu o trem de Campanhã,

Em carreira de Trofa-a-Fafe,

Passa o Minho com´ interface

Em meia hora estarei lá…

Entre a Trofa e o Santo Tirso

Com silêncio e sem alvoroço

Dei-me, co´ apetite, ao almoço:

Bife, banana, pão e chouriço.

De um tinto amigo, nem vê-lo

Que a prudência já tem manha,

Bebi uma aguita da Penha

Bem guardada com muito zelo.

Em Vizela estou transitando,

Neste tão precioso momento,

No alto das Pêras São Bento

Que dá prazer ir admirando.

Passa o comboio em Nespereira,

Que bela que está esta tarde,

Sinto uma saudade que arde

Quando avisto a Casa da Beira.

Já tenho Guimarães à porta,

O meu corpo já o pressente,

Vejo a Penha no alto, e à frente,

E todo o meu Eu se exorta.

Guimarães, Cidade de Bem,

Debaixo de um sol tão brilhante,

- Que calor! Ouvi num instante,

Duma boca não sei de quem…

O fiel comboio chegou à hora,

Quase toda a gente saíra,

Alegria, essa, ninguém ma tira

Já cá estou a partir d´ agora.

Passeei até à hospedagem,

O meu lugar está reservado,

A viagem correu como é dado

Nesta minha louca romagem.

A vida, por aqui, está calma

Na esperança da Senhora da Penha,

Fica feliz quem por cá venha

Dar alimento à sua alma!

Frassino Machado

In TROVAS DO QUOTIDIANO

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 10/09/2018
Código do texto: T6444728
Classificação de conteúdo: seguro