DE MORTE IMORRIDA...
I
Há um lugar absurdo,
Das fábulas mal vivenciadas:
Onde se morre desnudo...
Jogado pelas calçadas.
II
Se morre nunca em absoluto!
De morte imorrida de alento
Sangrando na essência do tudo...
Do tudo perdido ao vento!
III
Se morre da droga eclética
De farmacopéia extensiva
Na toda enterrada cinética
À vida mais evoluída.
IV
De morte que mata aos poucos
Para nunca ser percebida
Por dentre discursos dos ogros
Que soam à vida carcomida.
V
Lugar bem paradisíaco
Ninguém nunca sabe de nada!
Porque toda morte imorrida
É sempre muito bem enfeitada.
VI
Se morre de morte imorrida
Daquela já prenunciada
Que quando se nasce em vida
A morte já está sentenciada.
VII
Se morre de infância esquecida...
De senilidade carente,
E as praças tão arrefecidas
Sepultam as vidas das gentes.
VIII
Se morre de bolsos larápios,
De ignorância aguerrida!
Se morre com as mãos lá dos altos
Na terra aos poucos decaída.
IX
Há um lugar absurdo
Que mata de todas as causas...
Externas sob os viadutos
Internas: todo o organismo em pausas...
X
Se morre de bala perdida
Se morre no eixo letal!
Se morre de todas feridas!
Dantes nunca vistas igual.
XI
Se morre de ferida no corpo
Às vezes só com orifício de entrada
Se morre da fé em aborto!
De alma dilacerada.
XII
Se morre do câncer instaurado
No eixo da corrupção!
Metástase pelo sangue suado
Do povo de cueca na mão.
XIII
Se morre sem via de saída
No rubro de todas as cores!
Do sangue vertido às notícias
Que vertem dinheiro a rodo...
XIV
Se morre de paralisia
Que mata qualquer movimento!
Se morre de anencefalia!
Com cérebros lesados ao relento!
XV
Se morre de morte alada
Nas asas de gatunos mosquitos...
Sinal duma terra infestada
Com larvas de danosos "pulíticos".
XVI
Se morre sem nenhum ungüento
Qual um animal pela estrada
Não visto em dolorimento...
Da chaga que lhe foi decretada.
XVII
Relento de todas as causas!
Que salvam qualquer multidão...
Relento à esperança sem causa!
Que tomba imorrida no chão.
XVIII
Se morre de todo vernáculo
Imorrido no vão do discurso
Se morre de fogo cruzado
Que cruza o vão dos escuros.
XIX
Se morre da letalidade
Do tudo negado ao chão!
Se morre da fatalidade...
Do voto ingênuo ao ladrão.
XX
Há um lugar traiçoeiro
Que mata de peste orquestrada
São ratos pelos bueiros...
Da farra bem organizada.
XXI
Um todo negligenciado
Que mata de morte imorrida...
Condena toda vida ao legado
Da morte,sem nunca ter sido vivida.
XXII
E no atestado das mortes
De tantas causas imorridas...
É dado sempre à grande sorte!
A causa de perder-se a vida.
***
Nota da autora: com singeleza, ofereço minhas trovinhas a todos os protagonistas desse cenário fúnebre.