O TAMANHO DA MINHA LOUCURA

O tamanho da minha loucura

É proporcional a importância

Que dou às circunstâncias

Do meu dia a dia

A minha loucura é deliberada

Origina-se do nada

Eu como um nada

Com um ser não-ser

Minha loucura é minha obra prima

Pintada a tantas mãos sejam

Meus inúmeros e mecânicos pensamentos

Mais surrealistas que Dalí

Essa minha loucura é incurável

Pois assim a quero

Como o refúgio

Para o meu silêncio inexorável

Minha loucura é divagar

Como disse alguém

Viver num mundo só meu

Inatingível por natureza

Minha loucura é tornar-me

De uma hora para outra antissocial

Mas no fundo querer ter amigo(a)s

Ser normal como ele(a)s

Minha loucura é querer solidão total

Não falar embora escritor

Não me importar com ninguém

Me livrar da opressão

Minha loucura é parecer um anjo

Deixar transparecer benevolências

Enquanto guardo minha crueldade só para mim

E chorar a cada cena emocionante

Minha loucura é não ter memórias

Não reter nada do que escrevo

Ser um vazio a esmo

Sem história para contar

Minha loucura é falar de amor

Nas linhas tênues de um poema

Enquanto um pulsar esvazia

A areia do relógio temporal

É a loucura de quem fala consigo

Como se duas pessoas fosse

Lá dentro da cabeça-mundo

Isolado nas suas fronteiras

Minha loucura não me deixa em paz

Assim como não a deixo sossegada

Quem seria meu par senão eu mesmo

Na dança tresloucada desta vida vã ?

Diz minha loucura num murmúrio

Que minha loucura é desculpa

De pessoa inteligente

Com falta de amor-próprio

Como poderia dar razão a minha loucura

Se sou eu mesmo que me interpreto ?

Seria muita loucura me levar a sério

Diante dessas circunstâncias

Rinaldo Saracco
Enviado por Rinaldo Saracco em 12/03/2018
Código do texto: T6278162
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