O TAMANHO DA MINHA LOUCURA
O tamanho da minha loucura
É proporcional a importância
Que dou às circunstâncias
Do meu dia a dia
A minha loucura é deliberada
Origina-se do nada
Eu como um nada
Com um ser não-ser
Minha loucura é minha obra prima
Pintada a tantas mãos sejam
Meus inúmeros e mecânicos pensamentos
Mais surrealistas que Dalí
Essa minha loucura é incurável
Pois assim a quero
Como o refúgio
Para o meu silêncio inexorável
Minha loucura é divagar
Como disse alguém
Viver num mundo só meu
Inatingível por natureza
Minha loucura é tornar-me
De uma hora para outra antissocial
Mas no fundo querer ter amigo(a)s
Ser normal como ele(a)s
Minha loucura é querer solidão total
Não falar embora escritor
Não me importar com ninguém
Me livrar da opressão
Minha loucura é parecer um anjo
Deixar transparecer benevolências
Enquanto guardo minha crueldade só para mim
E chorar a cada cena emocionante
Minha loucura é não ter memórias
Não reter nada do que escrevo
Ser um vazio a esmo
Sem história para contar
Minha loucura é falar de amor
Nas linhas tênues de um poema
Enquanto um pulsar esvazia
A areia do relógio temporal
É a loucura de quem fala consigo
Como se duas pessoas fosse
Lá dentro da cabeça-mundo
Isolado nas suas fronteiras
Minha loucura não me deixa em paz
Assim como não a deixo sossegada
Quem seria meu par senão eu mesmo
Na dança tresloucada desta vida vã ?
Diz minha loucura num murmúrio
Que minha loucura é desculpa
De pessoa inteligente
Com falta de amor-próprio
Como poderia dar razão a minha loucura
Se sou eu mesmo que me interpreto ?
Seria muita loucura me levar a sério
Diante dessas circunstâncias