OS OLHOS DA NATUREZA

«Trovas do mês de Maio»

Toda a Natureza é bela

E é bela qualquer flor

Com olhos de cinderela

Como é belo o meu amor.

Os olhos da natureza

São olhos de mim também

E no que respeita à beleza

Como eles não há ninguém.

À volta de um horizonte

Tudo o que sinto é riqueza

Espelhados vejo na fonte

Os olhos da Natureza.

É belo o ar que respiro

Todo o pensar tem valor

Sinto prazer quando inquiro

Se é bela qualquer flor.

Toda a Natureza tem olhos

E também todas as flores

Em cada par ou aos molhos

Sinto neles os meus ardores.

Mês de Maio, mês das flores,

Mês da alma e da harmonia

Pintado de todas as cores

E revestido de fantasia.

A par da flor é o meu canto,

Que tem melodia como ela,

A cotovia é o meu espanto

Com olhos de cinderela.

Todo o pássaro voa suave

Quer tenha frio ou calor

Minh´ alma canta o que sabe

Porque é belo o meu amor.

São os olhos da Natureza

Os olhos que Deus me deu

Tudo é belo, tenho a certeza,

Tão belo como no céu.

No espelho d´ água há um sol

Qu´ é seu irmão porventura

E no canto do rouxinol

Há balada de ternura.

Toda a Natureza me olha

Como eu olho para ela

E as gotas d´ água que chora

Escorrem na minha janela.

Minha alma anda à deriva

Sozinha a todo o momento

Não há beleza que lhe sirva

E lhe cubra o pensamento.

A cada hora que passa

Sinto que o tempo me foge

Numa saudade sem graça

Do antigamente até hoje.

Os olhos da Natureza

São olhos iguais aos meus

Meu amor, tens mais beleza,

Quando parto sem os teus.

Os olhos da Natureza

Olham, para tudo, a esmo

Na alegria e na tristeza

Adentram comigo mesmo.

A Natureza não é cega

E eu cego também não

Se algum mal se me pega

Só se for noutra paixão.

A Natureza tem vida

E eu tenho vida também

Se por mim não for esquecida

Dela nenhum mal me vem.

Os olhos da Natureza

Nunca me deixam sozinho

Pois comem comigo à mesa

Num prato de pão e vinho.

Nas rosas sinto um sorriso

Espalhado pelo caminho

Com ele vai-se-me o siso

Pintado de rosmaninho.

Os olhos que na alma tenho

São olhos pupila-rainha

Nas asas me vou e venho

Com saudades de andorinha.

Os olhos da Natureza

São olhos da cor do mar

Seu marulhar singeleza

Faz a brisa me enredar.

O meu olhar-natureza

Entre o campo e a floresta

Tem esperança, tem certeza

Do prazer que manifesta.

Natureza, minha aldeia,

Libelinha e mariposa,

Abelha-mestra, colmeia

Com melícia saborosa.

Nos olhos do horizonte

Toda a minh´ alma se envolve

Na planície ou no monte

A minha emoção se dissolve.

Meu Maio, minha bonança,

Meu compromisso e olhar,

Meu coração de criança

Na Natureza a bailar…

Ó olhos da Natureza,

Ó olhos que são de mim,

Deixai-vos de avareza

Plantai cá dentro um jardim!

Frassino Machado

In TROVAS DO QUOTIDIANO

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 03/05/2017
Reeditado em 03/05/2017
Código do texto: T5988679
Classificação de conteúdo: seguro