A água sagrada da pia...

Eu até pegaria a solidão para dançar, se eu soubesse dançar. - Mas o meu trabalho, deixa minha vista cansada.

Pego um café, um cigarro e um papel para tirar o peso da minha cabeça, mas ela sempre diz, que eu sou insensível demais quanto a morte dos outros.

Passo na rua, pessoas olham pra minha perna com olhar estranho, chego em casa, cheio de angústia e raiva e, vou ao banheiro olhar minhas olheiras de cansaço e festejo vendo o meu sangue escorrer na pia.

Vejo uma menina que eu conhecia, me olhando com olhar de pena e desprezo. - Ela é linda, mas só é uma pessoa que eu costumava saber quem é.

A estrada é longa e o trem passa rente ao meu corpo que quer se jogar, mas encontro uma menina que trabalha na OMS e, disse pra eu, não poetizar minha depressão. - Pois, ela iria censurar tudo o que eu já fiz...

Então, entro em casa, coloco uma camisa de manga comprida no corpo e vou para o banheiro...

Jogar aquelas convulsões, aqueles ataques epilépticos, a boca daquela garota que só falava coisas para machucar, as moedas que ficaram no chão, os causos que não viraram livros, todas as humilhações e a imagem de meu pai...

Nas águas sagradas da pia. - Onde pra sempre escorrerá meu sangue grosso.

Victor Gonçalves
Enviado por Victor Gonçalves em 01/05/2017
Reeditado em 01/05/2017
Código do texto: T5986179
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