ALA DO BLOCO DESFEITO
Abram alas que é Carnaval!
Na avenida tudo em prontidão:
Nas carcaças do trivial
Tudo o mais é só mera ilusão.
Abram alas para se sonhar
Aonde sonhos são alegorias
O que importa é só desfilar
As migalhas da ida alegria.
Abram alas para escola soletrar...
O alfabeto ensinado um dia!
Donde o texto sonhado no ar
É extinto pela bala perdida.
Abram alas ao bloco da Saúde...
Tão doente...já agoniza no chão!
Pois SAMU já chamado , amiúde
Não tem como chegar de busão.
Ao doente, ao idoso, à criança...
Abram alas, pelo amor de Deus!
Nossa escola só desfila a lembrança
Do abandono que nos adoeceu.
Abram alas às arenas do Homem!
Bicho solto enjaulado de si...
Logo ali na viela dos nobres,
Mais um tiro cruza a Sapucaí!
Abram alas às grifes das vestes
Nos palanques da reconstrução...
São cordões dum povo marionete!
Ala espólio da corrupção.
Abram Alas às tantas cracolândias!
Vil desfile da desconstrução..
Pelas ruas é só zumbilância
Maior droga?- é a alienação.
Abram alas ao nosso faroeste!
Ala fétida por tanta podridão...
Desde os Pampas ao belo Agreste...
Sem escola tudo é destruição.
Abram alas à Mata Atlântica!
Amazônia , seus rios e afins
Do Cerrado, Pantanal quanta zona
Que da Mata se desfila ao fim.
Na Caatinga já desidratada
Tenro verde é empedernido,
Como verso a chorar pelas águas...
Um poema ao todo ressequido.
Abram alas para os vales sofridos!
Do Rio Doce que é só lamaçal,
Peixe zumbe atolado nos mangues...
Rio e mar tudo zumbe no mal.
Abram alas que é Carnaval
Justa hora de tudo esquecer
O nunca dantes visto igual:
Já não temos mais alvorecer.
Na Mangueira, o fruto do peito
Já floresce doce Carnaval,
Verso pleno ao bloco desfeito
Vil asfalto ao meu desigual.
Pierrôs e zonzas colombinas
Zonzeando pela ala febril
São zumbis do que foram um dia:
Blocos áureos dum esquecido Brasil.