PRESÉPIOS DO MUNDO

Ó meu presépio do Mundo,

Ó meu presépio da Vida,

És meu amor mais profundo

E minha paixão renascida!

Presépio da Natureza

Com água clara corrente

Cor verde, minha beleza,

És prazer de toda gente.

Presépio na beira-rio

Ou numa encosta do monte

Sinto-te preso por um fio

Atado no horizonte.

Presépio à beira-mar

Minha canoa perdida

Maré viva a dar a dar

Sem chegada nem partida.

Presépio ao sol-nascer

Minha lavoura suada

Com frutos para vencer

Colhidos na madrugada

Presépio, rebando e pastor,

Carneiros, ovelhas, chocalho,

Meu frio, meu cobertor,

E um resguardo de orvalho.

Presépio, neve caída,

Com o meu Menino à lareira,

Deixa essa chuva vencida

E anda pra minha beira.

Presépio, recreio de escola,

Meu pé descalço ferido

Não posso chutar à bola

Sem me ver arrependido.

Presépio, macaca jogada,

Meninas p´ lo nevoeiro

Rapazes de uma assentada

Perdendo ao burro trigueiro.

Presépio no adro da igreja

Fogueira na minha aldeia

Beijinho cheio de inveja

Depois da hora da ceia.

Presépio da minha terra,

Todas as terras do mundo,

Presépio grito de guerra

Ódio batendo no fundo.

Presépio corpo mendigo,

Beco a beco e rua a rua,

Vestido de sem-abrigo

Na claridade da lua.

Presépio minha varanda

Raios de sol fugidio

Fica a saudade em ciranda

Entre o calor e o frio.

Presépio do meu quintal

Musgo, fieitos e areia,

Bolotas do meu bornal

Com moinhos em cadeia.

Presépio dos três Reis Magos

Saídos da Galileia,

Cavalos e burros malhados

E lobos de alcateia.

Presépio, vilas, cidades,

Com feiras e saltimbancos,

Viajantes de várias idades

De tons coloridos e brancos.

Presépio do meu País

Com Presidentes ou reis

Estou feliz, como quem diz,

Ninguém sabe, não sabereis.

Presépio da branca Europa

Dinheiro perdido e à sorte

Quem o tem brinca co´ a tropa

Dançando na sombra da morte.

Presépio das combinações

Com sonhos e desventuras

É a hora das emoções

Dos carinhos e ternuras.

Presépio dos quatro ventos

Sem vestígios nem achados

Presépio dos meus lamentos

Campos sem trigo semeados.

Presépio das mordomias

Das fanfarras e parlamentos

Presépio das arrelias

Das promessas e juramentos.

Ó meu presépio do Mundo,

Ó meu presépio da Vida,

És meu amor mais profundo

E minha paixão renascida!

Frassino Machado

In TROVAS DO QUOTIDIANO

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/12/2016
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