NOSSA SENHORA DA BEIRA
“Trovas à Casa da Beira”
Neste meu sonho embalado
Tantas vivências sem fim
Sinto mais perto o passado,
Com as lembranças de mim.
A meio da encosta erguida
Qual paraíso encantado
Minha Casa renascida
Neste meu sonho embalado.
Mui esbelta e ensolarada,
Com aroma de jasmim,
Numa aventura passada
Tantas vivências sem fim.
Ali mora a minha história,
Livro escrito inacabado,
Nesta odisseia notória
Sinto mais perto o passado.
Onda de vento altaneira,
Meu quintal e meu jardim,
Estou vivo na Casa da Beira
Com as lembranças de mim.
De uma recôndita mina
Cavada no seio do monte
Desce a água cristalina
Que dá vida à minha fonte.
Não há regueiras selvagens
De indisciplina corrente
Nem salsa nas suas margens
Que dê tempero pra gente.
Acabaram-se as latadas
Cortaram-se os laranjais
E o melro p´ las madrugadas
Cantar, já não canta mais.
Na eira não há crianças
Jogando à macaca e à bola
Estão secas as esperanças
De uns trinados de viola.
Relógio de sala festivo
Com cuco madrugador
Era, porém, o lenitivo
Para a solidão e a dor.
Não há canto nem piano
Com lareira e mesa cheia
Mas há um fado todo o ano,
Minha Casa, minha aldeia.
Meus vizinhos, lado a lado,
Estórias para esquecer,
Eram testemunho e enfado
De problemas a haver.
Na escadaria da Igreja
Medindo-se a valentia
Saia currículo de inveja
Em escola de fantasia.
Nas noites de trovoada,
Raminhos de oliveira,
Com ladainha rezada
Nossa Senhora da Beira.
Saudade com sabor a céu,
Santa Birinha prendada,
À sombra de um mausoléu
Está minha Casa plantada!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA