NOSSA SENHORA DA BEIRA

“Trovas à Casa da Beira”

Neste meu sonho embalado

Tantas vivências sem fim

Sinto mais perto o passado,

Com as lembranças de mim.

A meio da encosta erguida

Qual paraíso encantado

Minha Casa renascida

Neste meu sonho embalado.

Mui esbelta e ensolarada,

Com aroma de jasmim,

Numa aventura passada

Tantas vivências sem fim.

Ali mora a minha história,

Livro escrito inacabado,

Nesta odisseia notória

Sinto mais perto o passado.

Onda de vento altaneira,

Meu quintal e meu jardim,

Estou vivo na Casa da Beira

Com as lembranças de mim.

De uma recôndita mina

Cavada no seio do monte

Desce a água cristalina

Que dá vida à minha fonte.

Não há regueiras selvagens

De indisciplina corrente

Nem salsa nas suas margens

Que dê tempero pra gente.

Acabaram-se as latadas

Cortaram-se os laranjais

E o melro p´ las madrugadas

Cantar, já não canta mais.

Na eira não há crianças

Jogando à macaca e à bola

Estão secas as esperanças

De uns trinados de viola.

Relógio de sala festivo

Com cuco madrugador

Era, porém, o lenitivo

Para a solidão e a dor.

Não há canto nem piano

Com lareira e mesa cheia

Mas há um fado todo o ano,

Minha Casa, minha aldeia.

Meus vizinhos, lado a lado,

Estórias para esquecer,

Eram testemunho e enfado

De problemas a haver.

Na escadaria da Igreja

Medindo-se a valentia

Saia currículo de inveja

Em escola de fantasia.

Nas noites de trovoada,

Raminhos de oliveira,

Com ladainha rezada

Nossa Senhora da Beira.

Saudade com sabor a céu,

Santa Birinha prendada,

À sombra de um mausoléu

Está minha Casa plantada!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 03/10/2016
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