Me tirando à limpo.

                       

                                                    

Sou índio velho que aguenta repuxo

e engole sapos sem perder a pose.

Que ouve quieto, mas que abre o bucho,

quando é perciso.Seja um ou doze.

Não trago, ao rancho, nenhum desaforo.

Pra todos eles me entrego em resposta...

E não se façam ,sendo bois, de touros,

que os não engulo mesmo a mesa posta.

Sou quera limpo e, em minha invernada,

não dou guarida a quem sei infame

Não dou-le abrigo. Que fique na estrada.

Embora le alcance algum mata fome.

Sou xiru velho que quebra e não verga.

Sou andarejo de muitas quebradas.

Que implica as vês .Que o mais das vêiz enxerga.

e volta e entrega, de mão, a parada.

Não me arrepio com quem ronca e forte...

Nem me apresilho a qualquer pinguço.

A lealdade faz meu rumo. O norte.

E não me emprenho com qualquer discurso.

Sou quera inteiro pra qualquer negócio,

e não me enfezo por poco deboche.

Gosto de um trago, nas horas de ócio.

Não me aparelho com quem mui atoche.

Viro uma arara, se a carpeta estora,

por mau carteado de quem, mão, à mesa.

Ponho o vivente pela porta afora,

pagando, antes, por toda a despesa.

Me aflocham as pernas o chorar doído

do piazito que se vê magoado.

Me pula ,ao peito ,o coração partido,

quando não posso lhe emprestar cuidados

Sô cabra macho de uma só mulher.

Sem escapadas com quem quer que seja.

Não quero pr'ela o que ela não quer.

Quero-a livre, independente e andeja.

Minha parceira, em todos os meus sonhos

A guia terna dos meus descaminhos..

E sei estar onde ela está. Suponho!!

Que dela cuido co'o maior carinho.

Não tenho pejos em dizer te amo,

pois trago amor de sobra na bagage.

Não guardo mágoas. Nem mesmo reclamo,

quando me aprontam alguma sacanage.

Se, as veiz, me aprumo, a devolver us troco

cocoricando como um garnisé,

ou só ladrando como um cusco rouco....

Não bico ou mordo, pois que em minha fé

se aprejudica ,assim ,só o vivente,

pois tudo é causa e causa tem efeito..

E quem mal faz recebe e num repente

em dobro a dor. Não tem curé... Nem jeito.

Mas mesmo assim, buscando ser perfeito,

aqui e ali trupico nos lançante,

mas busco, pronto ,arreparar o feito.

Peço adescurpas e me vou por diante.

Não me lasqueio e nem nego estrivu

aos que me gritam "Por favor!! Me acuda!

E les atendo pronto e sem estrilos,

levando ao quera minha mão de ajuda.

Sou pai. Sou mãe das que perderam o afeto

da prenda amada que se foi tão cedo,

e esta empreitada cumpro mal ,por certo.

Falta-me o jeito e me sobram os medos.

E assim vou indo em minha cancha-reta

co'o Zaino velho que ainda está inteiro

Dele que dele em direção à meta.

Vou indo pronto, mas não me aligeiro.

Tchê Kauffmann.

kauffmann
Enviado por kauffmann em 10/08/2016
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