E A LAMA VAZOU!
Toda lama quando nasce
Fica na obscuridão
Quanto mais o lixo cresce
Mais aumenta sua tensão.
Se era lama pequenina
Logo se tornou um vulcão!
Os rejeitos contaminam
Todo o solo da Nação.
Mar de lama se aproxima
Do oceano em prontidão
Todo a flora está aflita...
E a fauna em depressão.
Como a lama se amontoa?
Ninguém sabe ninguém viu!
Um avião a sobrevoa
Para estudar porquê pariu
A catástrofe cor de terra
Triste tom de "terra- cota"
Do ferrugem que desterra
Toda mão que age a toa!
E o olho que não cuida
Vocifera no discurso
"isso é coisa cabeluda...
é um rio de absurdo!!
"Nós que tudo aqui podemos
Prometemos a solução:
Brasileiros e Brasileiras
Arregaçemos as nossas mãos!"
Nunca no Brasil de dantes
Viu-se algo parecido
Prometemos a todo instante
Um rio doce colorido...
"De pedrinhas cintilantes
De perigosos metais
O legado é brilhante:
Abrilhantar o que já jaz! "
E pelas fibras do tapete
Da barragem que rompeu
Toda lama desce em rede
Do que só se corrompeu.
Se é laminha ou lamaço?
HOJE é puro lamaçal!
Todo o mundo vê o estrago...
Do fluxo do nosso mal.
É lama pra todo lado!
Até parece o apocalipse
O mar já virou um lago...
De lama da nossa crise!
Os arrecifes assustados
Todos eles dão-se as mãos
Vão rezar no mar fechado
À Iemanjá forte oração.
Estrela Dalva lá de cima
Arriscou um mergulhão
Pra salvar o grão de areia
Fruto da sua paixão.
Os golfinhos enlamaçados
Se socorrem nos corais
Que estão todos manchados
Na lama dos manguezais.
E o polvo orgulhoso
Dos seus braços, multicerdas
Num cenário pavoroso
Se enrolou em toda a m.
Peixe-Boi não acredita
No tudo que aconteceu
Foi buscar outra marmita
Sua comida já morreu!
As baleias já espirram
Chafariz de lamaçal
E as nuvens do horizonte
Choram por não ter lual.
Tartarugas levam os ovos
Dentro das suas mochilas
Nunca viram tanto estorvo
Pra fazerem novas vidas.
E o sol que foi embora
Sequer sonha em voltar
Desistiu de seus abrolhos!
A quem vinha iluminar.
Eis aqui o meu cenário
Tão difícil de rimar
Pois morreu meu relicário
De todos frutos do mar.
E o rio doce tão amargo
Com a tristeza que passou
Hoje corre afogado
Pela lama que vazou.
Literal a nossa lama
É metáfora bem holística!
É o céu que já proclama...
A tragédia metafísica.