ROMAGEM DA MINHA SAUDADE

“Trovas às Senhoras do Monte”

P´ lo cantar da cotovia

Nas ondas do horizonte

Subi às Senhoras do Monte

Com a alma em harmonia.

Saí da Casa da Beira

Em solarenga manhã

Pra ermida que n´ alto está,

Ex-libris de Nespereira.

Já lá fui de tenra idade

Vezes e vezes sem conta

E agora, por pouca monta,

Sou romeiro da Saudade.

Naquela íngreme encosta

Onde antes eram fazendas

Vêm-se agora vivendas

Duma aparência bem-posta.

Do cimo da Belacosa

Por socalcos e vinhedos

Avista-se sem enredos

Uma paisagem frondosa.

Foi grande a coincidência,

Da minha maior estima,

Estavam lançando a vindima,

Deste Minho providência.

Manhã repleta de calor

De colheita sem camisa

Toda a gente colhe e pisa

Os frutos do bom sabor.

Fresca encosta verdejante,

Antes carvalhos, pinhais,

Hoje, apenas, eucaliptais

De uma cor extravagante.

Aqui e além moram fragas,

Por entre elas há veredas

Que s´ estendem sós e ledas

Pelas musgosas quebradas.

Estão à vista as capelas,

De S. João e das Senhoras,

Quem lá vai esquece as horas

E o silêncio à volta delas.

Vêm-se rochas memoriais

Com parques pra merendeiros

Há décadas que os romeiros

Por ali deixam os seus sinais.

Na mais santa das Montanhas

Rente às sagradas ermidas

Elevam-se empedernidas

Duas sumidades-estranhas.

Uma é o cruzeiro da Fé

Restaurado do trovone

Outra é a torre da Vodafone

Que ninguém sabe pro qu´ é.

Ali mesmo um memorial

Escrito com engenho e arte

Cita o primo padre Duarte

Dos romeiros primordial.

Estava eu nisto pensando

Quando passa um pelotão

Duma BTT em diversão

Que ia por ali passando.

É assim aos fins-de-semana

Habitual giro em bolina

Naquela santa colina

De uma ou outra caravana.

Desfraldei uma oração

Antes de me despedir

Das Senhoras que a sorrir

Me benzeram o coração.

- Ó Senhora da Lapinha,

E do Monte e da Guia,

Canto pra Vós com magia

À luz de acesa estrelinha.

Quão belo o azul do céu,

Ao longe a linha do mar,

Foi muito bom aqui estar

Levo na alma um troféu.

Olhei o fausto do horizonte

De todo o concelho primaz,

Sentindo-me feliz e em paz

Desci das Senhoras do Monte.

Um dia aqui voltarei

Pra alimentar a Saudade

Nas asas da liberdade

Que desde a infância gerei!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 26/09/2015
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