Guardando os badulaques.
GUARDANDO OS BADULAQUES
Aécio Kauffmann
Me voy tranquilo a guardar aperos.
Velhos avios. Pouco mais que nada.
A bomba. A cuia e alguns cincerros
já desbastados em meio às jornadas.
O ponche velho. Roto e esfarrapado
que agasalhou meus sonhos missioneiros,
que a prenda nunca os quis saber rasgados
e em seu amor sempre os manteve inteiros.
O pala amigo que as noites no pampa
serviu de abrigo ao desvelado zelo
que era esconder em suas dobras a estampa
do pingo triste... Do pobre sinuelo....
E a guaiaca. O Laço e a boleadeira
A adaga. A lança. E o soveu carpido.
A trempe. O tacho e a velha chaleira.
O lenço e um naco de fumo curtido
Somam-se aos trastes de usança à lida,
reponteando a tropilha dos meus sonhos
que só buscaram dar mais vida a vida
dos haraganos que só por bisonhos
acreditavam porque não sabiam
do que a justiça lhes garante e até
se conformavam co’um pouco que tinham
se abastardando com restos de fé.
E assim vim vindo pela aí curtindo
uma esperança de xiru maleva...
Abichornado, as veiz.. As veiz sorrindo,
Pois que o que é do home o mal não leva.
Garrado a prenda eu me vim baldoso
A dar pranchaços. a cravar esporas...
firme no laço e a pialar tinhoso,
sem me importar em como andavam as horas.
E assim vivi qual que galo de briga
me entreverando como um índio maula,
sem aceitar, nem por pequena, a intriga
pois me pariram meio maula e taura.
E assim vou indo qual gaudério andejo,
-triste andarengo de muita invernada-
entre os meus sonhos e os meus desejos
tendo a esperança a minha vanguarda.
Comigo e sempre a minha prenda amada.
Minhas três Annas (recados de amor)...
Que as quatro foram meu arrimo à estrada.
meu fogo amigo as horas dor.
Juntando os poucos dos meus badulaques
Vendo-me a mim do tempo em que piazito
Vencia léguas sem nenhum achaque,
pôs que, com Deus, ninguém está solito.
E então me ajeito pra sorver uns goles
do mate amargo, chimarrão campeiro......
Ressoa ao longe uma gaita-de-foles
e as saudades se me invadem inteiro.