TROVAS DO MEU PRANTO

“Às vítimas do Mediterrâneo”

Ó ondas do mar d´ Itália

Que marés negras fazeis,

Dizei-me porque trazeis

Tanta dor e represália?

Por cada noite que passa,

Por entre brumas de medo,

Pairam gritos em segredo

E oceanos de desgraça.

Ó corvos marinhos reais

Que corpos são esses boiando

Sem bóias esbracejando

Em esperanças primordiais?

Cada hora é um tormento

Que gera drama abissal

Mostrando a morte fatal

Daqueles sonhos ao vento.

Ó consciências das Nações,

Que surdas permaneceis,

Quando é que vós ouvireis

As tristes lamentações?

Toda a gente sabe bem

Que há vampiros e chacais

Esperando à orla dos cais

Que chegue ou não mais alguém.

Ó vós, Maiorais do poder,

Com vestes de arrogância

Quando é que dais importância

Ao que está a acontecer?

Não há corpos resistentes

Em mares encapelados

Mas há crimes mascarados

E almas vis repelentes.

Ó moral, que é feito de ti,

Antes sempre engalanada

Mas hoje andas angustiada

Como quem não sabe de si?

Há testemunhos e brios,

Discursos humanitários,

Mas não há destinatários

Em sentimentos baldios.

Milhares de vidas em pranto

Este é o mundo em que andamos

E o mar em que navegamos

Mata-nos a todos d´ espanto!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 20/04/2015
Código do texto: T5214087
Classificação de conteúdo: seguro