TROVAS DO MEU PRANTO
“Às vítimas do Mediterrâneo”
Ó ondas do mar d´ Itália
Que marés negras fazeis,
Dizei-me porque trazeis
Tanta dor e represália?
Por cada noite que passa,
Por entre brumas de medo,
Pairam gritos em segredo
E oceanos de desgraça.
Ó corvos marinhos reais
Que corpos são esses boiando
Sem bóias esbracejando
Em esperanças primordiais?
Cada hora é um tormento
Que gera drama abissal
Mostrando a morte fatal
Daqueles sonhos ao vento.
Ó consciências das Nações,
Que surdas permaneceis,
Quando é que vós ouvireis
As tristes lamentações?
Toda a gente sabe bem
Que há vampiros e chacais
Esperando à orla dos cais
Que chegue ou não mais alguém.
Ó vós, Maiorais do poder,
Com vestes de arrogância
Quando é que dais importância
Ao que está a acontecer?
Não há corpos resistentes
Em mares encapelados
Mas há crimes mascarados
E almas vis repelentes.
Ó moral, que é feito de ti,
Antes sempre engalanada
Mas hoje andas angustiada
Como quem não sabe de si?
Há testemunhos e brios,
Discursos humanitários,
Mas não há destinatários
Em sentimentos baldios.
Milhares de vidas em pranto
Este é o mundo em que andamos
E o mar em que navegamos
Mata-nos a todos d´ espanto!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA