TROVAS E LAMENTOS
“À Célia Cavaco”
Escuta, ó lua minguada,
Desse céu mal arrumado
Meu pranto de madrugada
É um triste fado enjeitado.
Ouço tiros e vejo facas,
É assim que vai o País,
Gentinha de ideias fracas
Sem ter siso nem raiz.
Já são pais e já são filhos,
São irmãos e são amigos,
Há tristezas e há sarilhos
Com sofrimentos e castigos.
Boas mães e bons maridos,
Fortes homens e mulheres,
Com ciúmes reconvertidos
Em negócios e afazeres.
De manhã são namorados,
E de tarde namoradas,
Há corações recalcados
E vidas atabalhoadas.
Há sangue dentro das casas
E sangue a correr nas ruas
Aos anjos cortam-se as asas
Voando lágrimas cruas.
No poder há desgoverno,
Anda a dormir a justiça,
Todo o país é um inferno
Com tanta lei movediça.
Consta que há vários partidos
E certas instituições,
Parece um país de vencidos
Despido de convicções.
Desconhece-se a galhardia
Boceja-se o dia inteiro
E a única benfeitoria
É quando alguém tem dinheiro.
A terra parece madrasta
E se há pão come-se duro
A paciência já está gasta
E tem-se medo do futuro.
Há um vazio de crianças
E as poucas que ainda há
Irão crescer sem esperanças
Como névoa p´ la manhã.
Da escola não há notícia,
A Moral foi ar que lhe deu,
A saúde é tão fictícia
Quem a não tem já morreu.
O suor sabe a vinagre
E já não há quem lhe vale
Talvez só co´ um milagre
Terá salvação Portugal.
São estas as minhas trovas
São estes os meus lamentos
Esperemos por coisas novas
Trazidas por outros ventos.
Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS