Uma Ode ao Odiado.
Trouxeram, inundado de remorso
Um caixão carregado de destroços
De um homem atrofiado, sem nome e identidade
Para ser enterrado na mais isolada montanha que a vista alcançasse.
Pelo caminho as flores murchavam e secavam
E caíam no chão tristes com a morte que lhes atingiu;
Junto das rosas, pastava um cavalo
Que numa tentativa pífia de viver, fugiu.
O ar se carregava com uma aura pútrida,
Que enojava os homens sujeitos a tal fardo.
O ar escurecia a medida que passavam
E pelos campos adentro o carregavam.
De maneira eventual, os aldeões apareceram
E questionaram de onde vinha aquele terrível cheiro,
Que afugentou os pássaros e poluiu as águas
Que usavam para a sede saciar.
Calmamente, mas sem pausar a caminhada
Os homens do caixão explicaram o marco de sua empreitada:
"Descansa aqui, mas sem nunca descansar
Um velho amargurado, que passou a vida procurando a quem amar.
Encontrou muitas a quem lhe agradassem, mas nenhuma por ele se agradou
E num ato de desespero criou o rancor.
Quando descobriram tua criação, motivados pela própria dor
Condenaram-no a viver perto do amor, mas nunca sentindo teu ardor
E assim, experimentar sozinho a dor que ele inventou."
Enojados por sua presença apodrecida, e aliviados por tua partida
Esqueceram os malefícios e cantando, brindaram tua morte:
"Uma ode ao odiado, subordinado da rejeição.
À morte, o odiado! E com ele, toda tua criação."
O que não sabiam eles, é que a alma não morre
E alimentando sua solidão, estava o morto
Agora, plenamente absorto,
Implorando para que lhe deixassem experimentar o gosto da compaixão.