ORLANDO BRITO
27/11/1927 - 21/08/2010
27/11/1927 - 21/08/2010
“Coveiro, choremos juntos
nossos destinos tristonhos.
Pior que enterrar defuntos
é ser coveiro de sonhos...
No porto dos meus anseios
esperanças são navios,
que de manhã partem cheios
e à tarde voltam vazios...
Duas lindas borboletas
persigo, em nossos idílios:
- as tuas pupilas pretas,
batendo as asas dos cílios...
Quando ela vem, com seu jeito
de lírio esbelto e bizarro,
meu coração vai no peito
tomando a forma de um jarro...
Vê, querida: entre as cantigas
dos filhos em algazarras,
nós somos duas formigas
numa casa de cigarras...
A mulher sempre é mais pura,
mais bonita e mais completa,
quando a ponho na moldura
dos meus olhos de poeta.
Com falsas glórias terrenas,
Senhor, jamais me iludi.
Somos lâmpadas apenas,
pois a luz nos vem de Ti.
Passou... Bonita de fato!
E o mar, ao vê-la tão bela,
sentiu não ser um regato
para correr atrás dela.
É da luz que o sol envia
que nasce o brilho da lua.
Assim é minha alegria,
depende sempre da tua...
Parreira de uvas douradas
que Deus plantou nas alturas
pendem do céu, nas ramadas,
cachos de estrelas maduras.”