MARTIN FIERRO
( fragmentos)
I
Aqui me pongo a cantar
Al compás de la vigüela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena extrordinária
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.
continua....
Observação: Existem densas traduções desta obra prima de José Hernandez. Aqui - Romeu C. Fagundes - apresentarei ao leitor uma tradução livre permitindo-me, se for o caso, algumas observações pontuais.
José Hernandez( 1834 -1886): Nasceu no distrito de San Martin, provincia de Buenos Aires, e morreu em sua chácara de San José, na população de Belgrano, que hoje forma parte da cidade de Buenos Aires. Homem de pena e ação, foi periodista e político. Seu Martin Fierro constitui o mais original e bravio da poesia sulamericana. É um épico à altura dos clássicos de qualquer idioma que se tenha laborado neste terreno em todo o mundo.
MARTIM FERRO
Aqui me ponho a cantar
ao compasso da guitarra,
que o homem que angustia
uma dor extraordinária,
como a ave solitária
só com o cantar se consola.
Peço aos santos do céu
que ajudem meu pensamento;
E peço-lhes neste momento
que vou contar minha história
me refresquem a memória
e aclarem meu entendimento.
Venham santos milagrosos,
venham todos em minha ajuda,
que a língua se me enrola,
e me turba a vista;
peço ao meu deus que me assista
em uma ocasião tão difícil.
Já vi muitos cantores
com famas bem conseguidas
e que depois de adquiridas
não as querem sustentar;
parece que sem começar
se cansaram em paridas.
Mas onde outro crioulo passa
Martim Ferro ha de passar;
nada o faz recuar,
nem os fantasmas o espantam,
e desde que todos cantam,
eu também quero cantar.
Cantando haverei de morrer,
cantando me hão de enterrar,
e cantando hei de chegar
ao o pé do Pai Eterno;
donde do ventre de minha mãe
vim a este mundo a cantar.
Que não se trave minha lingua
nem me falte a palavra;
o cantar minha glória lavra,
e me pondo a cantar,
cantando me hão de encontrar
mesmo que a terra se abra.
Me sento sobre um garrão
a cantar um argumento;
como se soprara o vento
faço tiritar os pastos
com ouro, copas e bastos
joga ali meu pensamento.
Eu não sou cantor letrado
mas se me ponho a cantar,
não tenho quando acabar
e me envelheço cantando;
as coplas me vão brotando
como água de manancial.
Com a guitarra na mão
nem as moscas se me arrimam;
ninguém me põe o pé encima,
e quando o peito se entona,
faço gemer a prima
e a chorar a bordona.
Eu sou touro em meu rodeio
e bezerro em rodeio alheio;
sempre me tive por bom,
e sou duro com os duros,
e nenhum, em um apuro
me viu andar vacilando.
E no perigo, que cristo!
o coração se me engrandece,
e disto ninguém se assombre,
o que se tem por homem
onde queira faz pata grande.
Sou gaúcho e entenda-o
como minha língua lhe explica;
para mim a terra é pequena
e podia ser maior
nem a víbora me pica
nem queima minha fronte o sol.|
( fragmentos)
I
Aqui me pongo a cantar
Al compás de la vigüela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena extrordinária
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.
continua....
Observação: Existem densas traduções desta obra prima de José Hernandez. Aqui - Romeu C. Fagundes - apresentarei ao leitor uma tradução livre permitindo-me, se for o caso, algumas observações pontuais.
José Hernandez( 1834 -1886): Nasceu no distrito de San Martin, provincia de Buenos Aires, e morreu em sua chácara de San José, na população de Belgrano, que hoje forma parte da cidade de Buenos Aires. Homem de pena e ação, foi periodista e político. Seu Martin Fierro constitui o mais original e bravio da poesia sulamericana. É um épico à altura dos clássicos de qualquer idioma que se tenha laborado neste terreno em todo o mundo.
MARTIM FERRO
Aqui me ponho a cantar
ao compasso da guitarra,
que o homem que angustia
uma dor extraordinária,
como a ave solitária
só com o cantar se consola.
Peço aos santos do céu
que ajudem meu pensamento;
E peço-lhes neste momento
que vou contar minha história
me refresquem a memória
e aclarem meu entendimento.
Venham santos milagrosos,
venham todos em minha ajuda,
que a língua se me enrola,
e me turba a vista;
peço ao meu deus que me assista
em uma ocasião tão difícil.
Já vi muitos cantores
com famas bem conseguidas
e que depois de adquiridas
não as querem sustentar;
parece que sem começar
se cansaram em paridas.
Mas onde outro crioulo passa
Martim Ferro ha de passar;
nada o faz recuar,
nem os fantasmas o espantam,
e desde que todos cantam,
eu também quero cantar.
Cantando haverei de morrer,
cantando me hão de enterrar,
e cantando hei de chegar
ao o pé do Pai Eterno;
donde do ventre de minha mãe
vim a este mundo a cantar.
Que não se trave minha lingua
nem me falte a palavra;
o cantar minha glória lavra,
e me pondo a cantar,
cantando me hão de encontrar
mesmo que a terra se abra.
Me sento sobre um garrão
a cantar um argumento;
como se soprara o vento
faço tiritar os pastos
com ouro, copas e bastos
joga ali meu pensamento.
Eu não sou cantor letrado
mas se me ponho a cantar,
não tenho quando acabar
e me envelheço cantando;
as coplas me vão brotando
como água de manancial.
Com a guitarra na mão
nem as moscas se me arrimam;
ninguém me põe o pé encima,
e quando o peito se entona,
faço gemer a prima
e a chorar a bordona.
Eu sou touro em meu rodeio
e bezerro em rodeio alheio;
sempre me tive por bom,
e sou duro com os duros,
e nenhum, em um apuro
me viu andar vacilando.
E no perigo, que cristo!
o coração se me engrandece,
e disto ninguém se assombre,
o que se tem por homem
onde queira faz pata grande.
Sou gaúcho e entenda-o
como minha língua lhe explica;
para mim a terra é pequena
e podia ser maior
nem a víbora me pica
nem queima minha fronte o sol.|