PÁTRIA TRANSTAGANA * Rimance na madrugada
Com a noite adormecia.
De madrugada, acordava,
sob este céu de magia,
que de estrelas pontilhava
a cósmica fantasia…
A estrada já conhecia
a sua certa passada.
E, diligente, lá ia,
a estrada por companhia,
no frescor da madrugada.
Já alerta estava o gado.
Os seus passos conhecia.
Depois de limpo e tratado,
estaria preparado
para o trabalho do dia.
Ao cantar da cotovia,
começava a dura lida.
Quando mal rompia o dia,
a charrua já abria,
na terra, as rugas da vida.
E de sol a sol, doía,
por tão pouco, tal dureza.
Tantas horas num só dia!
Dia que apenas valia
uma jorna de tristeza!
Quanto podia a lembrança
das histórias dos antigos,
sempre houvera por herança
esta desgraçada andança
dum rosário dos castigos.
Triste história desta Vida!
Alcatruzes duma nora,
ora vindo de subida,
ora indo de descida,
gemendo como quem chora!
Ai, que fatal movimento,
insistente, rodopia?
Onde encontra tanto alento
p’ra manter o movimento
que sufoca cada dia?
Os dias passam em vão.
E sempre iguais no passar.
Nesta fatal rotação
vai girando a negação
de não sair do lugar.
Ai, tanta sede! Onde a fonte
onde se possa ir beber?
Perdido de monte em monte,
quem roubou o horizonte
da manhã a amanhecer?
José-Augusto de Carvalho
10 de Novembro de 2013.
Viana*Évora*Portugal