TROVAS AO (DES)GOSTO POPULAR
I
O pensamento tem cheiro.
A explicação natural
ao nosso odor de chiqueiro,
é porque pensamos mal!
II
Sempre que a saudade nasce
ferindo a reminiscência
eu seco o pranto da face
no lenço da tua ausência...
III
Boa boca é o meu vizinho
de origem italiana:
bebe vinagre, por vinho,
mastiga bambu, por cana!
IV
Um rato escondido ri
dentro do nosso casaco
e rói e rói nossa vida
como se roesse outro rato...
V
Por que tudo passa e é vento
por que tudo é vento e passa
nós somos só o momento
desse momento que passa.
VI
Balaios! Comprem balaios!
Que o mundo deles precisa
para enchê-los de lacaios
dentro de nobres camisas!
VII
A coisa que me admira
se bem que já não me espanta,
é ver uma toutinegra
namorando a toutibranca.
VIII
Incrível o que se cala,
quanto se tem pra dizer...
Se a paixão fosse uma bala,
muitos dela iam morrer!
IX
Ninguém confessa o que sente,
ninguém confessa o que quer:
a mulher querendo o homem,
o homem querendo a mulher.
X
Cavalo que é muito lento,
muita vez leva vantagem:
não corre risco nem cansa,
e chega ao fim da viagem.