"O poeta é um fingidor"
Sempre gostei de trovas. A que aqui postei, simples, ganhou companhias, o que muito me agradou.
A trova fala direto com o povo e poetas famosos a usaram com muita propriedade. Mas o privilégio não é dos consagrados. Dizem que as mais belas trovas, chamadas cromos, são de autoria desconhecida e dou exemplo disso. Autores desconhecidos do grande público também são trovadores famosos, como os repentistas nordestinos e gaúchos. Fiz um apanhado geral e atrevidamente coloquei uma de minha autoria.
O poeta é um fingidor,
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente. (Fernando Pessoa)
Mulher de recursos fartos!
Como é que esta impenitente,
tendo no corpo dois quartos,
dá pousada a tanta gente? (Olavo Bilac)
Saudade, perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê. (Menotti Del Picchia)
Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar
as águas vão consentindo
— esse é o destino do mar. (Cecília Meireles)
Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te, embora, o preço,
calco teu ouro no chão. (Carlos Drummond de Andrade)
Toda vez que ela aqui passa
olhos mirando você,
ela está fazendo graça;
só quem é cego não vê. (Jorge Sader Filho)
Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente. (Adelmar Tavares)
Teu sorriso é um jardineiro,
meu coração é um jardim.
Saudade! Imenso canteiro
que trago dentro de mim. (Mário de Andrade)
O pouco que Deus nos deu
cabe numa mão fechada;
o pouco com Deus é muito,
o muito sem Deus é nada. ( tradição, autor desconhecido)
Se sou folgado e não nego
É porque tenho razão.
Pois o que me agrada eu pego;
nunca ninguém disse não. (Carmem Velloso)