ADELMAR TAVARES

Alguém pede que lhe ensine,

a fazer versos também,
viva e sofra, ame e padeça,
e espere que o verso vem...
 
A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas;
quanto mais calmas, mais fundas.
 
A inveja tem seu castigo,
Deus mesmo é quem retribui;
enquanto o invejado cresce,
o invejoso diminui…
 
Alguém já disse, e é verdade,
que o sentimento do amor,
ou se faz eternidade,
ou então, não é amor...
 
A luz desse olhar tristonho
dos olhos teus, faz lembrar
essa luz feita de sonho
que a lua deita no mar.
 
A dor que em prantos rebente,
dói, mas pode consolar...
- Mas a dor que a gente sente
de olhos secos, sem chorar?!
 
Afeições enternecidas,
Meus derradeiros amores!...
Deus vos salve, mãos queridas,
Que me cobristes de flores!...
 
Amar com ciúme... Quem ama?!...
Quem ama assim, desconfia...
- Mas quem tais coisas proclama,
se amasse, não nas diria.
 
Amar é obra perdida
mas, que dissessem, queria,
se não fosse amar na vida,
a vida, que valeria?!
 
A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar vivendo,
depois que os sonhos se vão.
 
Amor que eu saiba em vitória,
No rumo do firmamento,
Deve perder toda escória
No fogo do sofrimento.
 
Amor vence espinho, ultraje,
Agravo, calúnia e lama.
Amor puro é Deus que age
No coração de quem ama.
 
Aos que me foram ingratos,
eu grato lhes hei de ser,
pelo bem que me fizeram
no bem que eu pude fazer.
 
Ardemos na mesma flama,
sofrendo da mesma Dor!...
- E é isso que a gente chama
felicidade de amor...
 
As penas em que hoje estou,
disse-as ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as à noite - chorou.
Disse-as a ti, e sorriste...
 
A saudade é uma andorinha,
que ao morrer do sol a chama,
as asas tristes aninha
no coração de quem ama...
 
A Ventura que hei buscado
pela Vida, sempre em vão,
que vezes não tem passado
à altura de minha mão!...
 
Bem sei que amar custa muito,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
 
Celeste amor que perdura
Atende a roteiro assim:
Ilimitada ternura
No entendimento sem fim.
 
Chagas de amor que se eleva
Recordam Cristo na cruz...
De cada golpe da treva
Jorra uma fonte de luz.
 
Coração, fonte da Vida,
da vida a própria razão.
- E tanta gente eu conheço,
vivendo sem coração...
 
De amor... Amor é infinito!
Do encanto do seu poder,
tanta coisa se tem dito!...
- E há tanta coisa a dizer...
 
Depois de mandar-te embora,
foi que - cego! - percebi,
que eras a felicidade,
que eu tinha em mão, e perdi.
 
Depois que, Mãe, te partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
 
Dizem que há mundos lá fora,
que eu nem sonho... Nunca vi...
- Mas que importa todo o mundo,
se o meu mundo é todo aqui?!
 
Dizer adeus nada custa,
alguém me mandou dizer.
Mas quem diz que nada custa,
queira bem e vá dizer.
 
Do mundo quando te fores,
mais que outra glória qualquer,
deixa a sombra de tua alma,
num coração de mulher.
 
Dos desertos deste mundo,
sei do mais desolador
- Uma alma sem esperança?
- Um coração sem amor...
 
Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
 
Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe... no fim do dia...
 
Duvido que alguém se deite,
no embalo que a rede tem,
e pegue logo no sono,
sem pensar em quem quer bem...
 
Encerram certos sorrisos
tristeza tão singular,
que, em se vendo tais sorrisos,
dá vontade de chorar...
 
É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz.
Quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais
 
Essa tua boniteza,
não tem, no mundo, rival.
- Pastora da minha Festa,
- Meu presépio de Natal!
 
Eu falei da "flor morena"
e entrou a rir quem me ouviu.
- Quem nunca viu flor morena,
foi porque nunca te viu...
 
Eu vi o rio chorando,
quando te foste banhar,
por não poder, te banhando,
dar-te um abraço, e parar...
 
Grande dia, este meu dia,
dado por Nosso Senhor.
- De manhã, escrevi versos
De noite, vi meu amor.
 
Há nos teus olhos escuros,
o escuro da Ave-Maria.
Desconfio que teus olhos,
são os de Santa Luzia...
 
Já lá vai morrendo o dia,
e hoje ainda não te vi.
- O dia em que não te vejo,
é dia que não vivi...
 
Lindo luar no céu flutua...
Ao violão, canto os meus fados,
que Deus fez noites de lua
para os que são namorados.
 
Mãe, que meus versos incensam,
quando eu vim do mundo à luz
foi na cruz de tua bênção,
que eu vi a vida uma Cruz.
 
Mesmo nos jardins da vida,
desde a minha meninice,
nunca alcancei uma rosa,
que o espinho não me ferisse.
 
 
Meu coração, pobre tonto,
que eu não entendo sequer,
fazes morrer quem te adora,
morres por quem não te quer!
 
Minha camisa velhinha,
lavada à flor de melão,
tira-me o peso da vida,
faz-me leve o coração.
 
Minha viola, meu cavalo,
a lavoura dando flor,
Maria, dentro de casa ...
- Louvado seja o Senhor!
 
Morte!... No termo das provas,
Senhor, agradeço a luz
Com que adornaste de trovas
As trevas de minha cruz!
 
Na janela do teu quarto,
a luz da manhã transborda.
Bem-te-vis estão gritando:
Preguiçosa, acorda, acorda!
 
Não há riqueza que valha
um coração de mulher...
Que eu por um, vivo os meus dias,
e todos que Deus me der.
 
Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais;
- Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para quê mais?
 
Não quero na minha morte,
nem pompa, nem mausoléu.
Quero uma covinha rasa,
que abra os braços para o céu...
 
Não quero ouvir o teu nome,
nunca mais te quero ver!
- E passo a vida pensando,
a forma de te esquecer.
 
Não se dá regras à trova,
que a trova regras não tem.
A trova é simplicidade,
ela vai, como nos vem...
 
Não sei por que, quando canto
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto,
que vem do meu coração.
 
Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
 
Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também.
 
Ninguém se queixe da Sorte,
que Deus de ninguém se esquece.
Cristo nasceu para todos,
cada qual, como o merece...
 
No momento derradeiro,
Antes do sono feliz,
Compus em gotas de pranto
A trova que nunca fiz.
 
Nunca vi dizer ser pobre
quem come em paz o seu pão,
quem toca sua viola
sem peso no coração
 
O laço de fita preta
dos teus cabelos, faceira,
parece uma borboleta
pousada numa roseira...
 
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita
tão difícil de fazer.
 
Ó lindos olhos magoados,
de tanta melancolia.
- Da tristeza desses olhos,
é que vem minha alegria.
 
Ó meu amor! Ó saudade!
- E eu não sabia que amor
era uma felicidade
disfarçada numa dor.
 
Ó Mundo! Ó Mundo! Ó meu Mestre!
Muito me ensinas viver,
e quanto mais tu me ensinas,
mais eu vejo que aprender!...
 
Onde anda o corpo, é verdade,
vai a sombra pelo chão...
É assim também a saudade,
a sombra do coração.
 
O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
 
Ó quaresmeira viuvinha,
toda coberta de flor!
Quando a viuvinha se enfeita
é que pressente outro amor.
 
Ora a Vida! ... Deixa-a andar,
não queiras da vida ter
o que ela não possa dar,
nem tu possas merecer...
 
O regozijo da morte
Que ninguém sabe dizer
Tem a beleza da noite
No instante do amanhecer.
 
Os "anjos da guarda" gostam
da rede dos pobrezinhos,
que dormem a sono solto,
ao Deus dará, nos caminhos
 
Os búzios guardam das águas
do mar, os fundos gemidos.
- Assim fossem minhas mágoas,
guardadas nos teus ouvidos...
 
O sol é que faz o trigo;
e o trigo, que faz o pão.
Mas se o trigo se faz hóstia,
faz-se sol no coração...
 
Ouvi, alguém que dizia:
-Lá se vai o poeta morto,
Sem perceber a alegria
Do sonho chegando ao porto.
 
Para de amor cantar mágoas,
foi que se fez o violão,
que a gente aperta no peito,
e encosta no coração...
 
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo.
 
Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo ...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo.
 
Por que, pela humanidade,
só o eu, soa e ressoa? ...
- É que há um sapo agachado,
dentro de cada pessoa.
 
Proclamas teu amor-próprio,
se alguém te diz minha dor.
- Essa questão de amor-próprio,
é muito imprópria no amor...
 
Pouco me dá que se diga
meu verso fora da moda,
meu verso é apenas cantiga
de cirandas, e de roda ...
 
Quando a trova nos transmite
seu feitiço singular,
a gente lê, e repete,
e depois, fica a pensar. .
 
Quando eu morrer, levo à cova
dentro do meu coração,
o suspiro de uma trova,
e o gemer de um violão.
 
Quando vejo teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira.
 
Quanto amor me prometeste!
- Nas tuas cartas, que ardor!
Depois ... tudo isto esqueceste,
- Coisas de cartas de amor...
 
Que contraste tem a Sorte!
No mundo, que ingrata lida!
- A Vida chorando a Morte
E a Morte rindo da Vida...
 
Quem dera que minhas trovas
andassem pelos caminhos,
consolando os desgraçados,
dando pão para os ceguinhos...
 
Quem ri do poeta, não sabe,
o consolo que ele tem.
E o dia em que fosse triste,
faria versos também.
 
Quem tiver amor, esconda
faça por muito esconder,
que as coisas da alma da gente,
ninguém carece saber...
 
Que tens tu, que és tão sombrio,
e hoje a rir, alegre, assim? ...
- Mal sabem que só me rio,
porque riste para mim.
 
Renúncia de amor profundo
Guarda sublime troféu:
Transforma pedras do mundo
Em construções para o Céu.
 
Saudade - doce transporte
da alma adejante e ferida...
- É viver dentro da morte!
- É morrer dentro da vida!
 
Se Cristo nasceu pra todos,
sua luz a todos vem.
Vive o rico na riqueza,
mas vive o pobre também...
 
Se eu pintasse minha infância,
pintava: num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio.
 
Sei que amor é sofrimento,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
 
Sempre que a felicidade
passa no meu coração,
é como sobre um presídio,
a sombra de um avião.
 
Sempre que alguém abre os braços
para amparar uma dor,
luz nesses braços abertos
a cruz de Nosso Senhor.
 
Seria a glória das glórias,
se um dia alguém me dissesse,
ter chorado neste mundo,
lendo um verso que eu fizesse.
 
Só peço o dia em que eu morra,
faça uma noite de lua,
todo troveiro descante,
todo violão saia à rua!
 
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto um amor-perfeito,
nasce sempre uma saudade.
. .
Sou nesta tarde da vida,
cheio de saudades minhas,
como um telhado de igreja,
todo cheio de andorinhas.
 
Teu cego de caridade,
chora não te conhecer,
e a minha infelicidade
foi ter olhos e te ver...
 
Tristeza! Minha tristeza!
Doce amiga dos meus ais.
Só de ti tenho a certeza
que não me abandonarás...
 
Todo rio na corrente,
busca um lago, um rio, um mar...
Mas o destino da gente,
quem sabe onde vai parar?
 
Trova que vens novamente
encher o meu coração,
- Sé bendita, luz divina,
amor de consolação.
 
Trovas, - cantigas do povo,
alma ingênua dos caminhos
de lavradores. . . cigarras ...
mulheres... e passarinhos ...
 
Trovas, trovas da minha alma!
Da vida quando eu me for,
sede o humilde travesseiro,
do sono de um sonhador.
 
Tua mãozinha morena,
se a tomo, tenho a impressão,
de uma rolinha cabocla
dormindo na minha mão.
 
Tu censuras de minha alma,
este alvoroço, este ardor...
Quem tem amor e tem calma,
tem calma... não tem amor...
 
Tu vais passando, orgulhosa!...
Nunca vi soberba assim.
- Ai de ti, por tanto orgulho.
Por tanto amar-te, ai de mim! ...
 
Uma vez que a gente cante
dizendo o que o povo diz,
a trova fica contente,
a trova fica feliz...
 
Um cego me disse um dia,
que Poesia, inspiração,
era uma lua nascendo,
de dentro do coração.
 
Vi hoje uma árvore velha,
toda coberta de flor...
- E me lembrei de minh'alma,
cheia de sonhos de amor.
 
Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
- Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver.
 
Vou vivendo a minha vida,
como Deus quer e consente.
- Sou como a folha caída
levada pela corrente...

UBT
Enviado por UBT em 17/03/2013
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