PÁTRIA TRANSTAGANA * Pátria transtagana
Para Norte, corre o Sado;
para Sul, o Guadiana.
Sol a pino, desapiedado...
Arde a Pátria Transtagana!
Águas doces do Xarrama,
em calmos pegos paradas,
amornadas pela chama
das tardes incendiadas.
Para Leste o Guadiana...
Ai, terras do Al Andalus,
em versos de porcelana
e rimas de ponto cruz!
Para Ocidente do Sado,
os longes do nunca mais...
Ai, sonho de alma arrojado,
feito de mar e pinhais.
No dorso da pátria amada,
Maio-maduro ceifava
a fartura da fornada,
mas pão na mesa faltava...
Hoje, de pousio, tem,
por seu destino, a trapaça
dum amanhã que não vem
e dum hoje que não passa...
Em tempo de trapaceiros
e de canseiras dobradas,
ide alerta, caminheiros,
à noite das emboscadas!
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 15.01.2013