Dona Esperança
Todo o dia eu fito uns olhos
que me levam à inspiração;
e eu contemplo essa menina
com tamanha admiração.
Ela tem as mãos suaves,
os seus lábios são delírios
como as garças revoando
e cantando sobre os lírios.
A cintura é de pilão,
o seu rosto angelical;
e eu me esqueço desta pena
pra viver o surreal.
Pois procuro uma mulher
doce, meiga, feminina,
que me seja companheira
sempre, quando o sol declina,
quando o sol garboso surge
como quem não vai morrer;
quando o inverno castigante
entristece todo o ser;
quando o mar está revolto
e a languidez me esmorece;
quando as sombras tomam conta
e a claridade fenece;
quando as sombras vão morrendo
e ouço o ledo rouxinol
anunciando, contente,
a manhã cheia de sol...
Não medito só no triste,
solidão da minha andança,
penso, também, na alegria,
pois em mim mora a esperança.
Quem me vê centrado em mim
nunca pôde imaginar
os delírios da minha alma,
quando se põe a sonhar:
em campos cheios de flores,
n' árvore altiva, deitados,
os sorrisos mais contentes
de amantes apaixonados,
os carinhos nas bochechas,
nos lábios umedecidos,
no pé-da-nuca, sensível,
e os pensamentos vencidos
pela delícia do gozo
desse carinho completo
onde, deitado ao regaço,
sinto-me amado e dileto.
Só com a ponta dos dedos
tocando a face serena,
vendo os olhinhos fechados
da mais formosa pequena...
Não custa nada sonhar...
Tenho medo dos pronomes
sendo em segunda pessoa,
por isso trovo sem nomes.
26/12/2012 23h16