RÉCITA
Eu preencho o seu vazio com a minha tristeza
E você me completa com o seu prazer
E logo vejo que sobre mim falo de você
Dos segredos que da cama vêm à mesa
Dos que julgam o coração pelo peso da beleza
Pega e beija sem pureza as costas da minha mão
Eu sorrio olhando nos olhos do seu coração
E sua mão sente a quentura que lhe mostro aqui
Da circulação do sangue-paixão que está por vir
E desvendamos no seu interior a verdadeira razão
Eu me coloco agora no seu lugar
E você se deixa penetrar pelo meu amor
E manda que eu cale a boca como um favor
Que quem sabe é você como me mandar
Calo-me logo quando manda me calar
E minha boca se ocupa d`outra função
Quente beija as erupções de sua paixão
E me revigoro em todos os reencontros
Mas este será final, ao contrário dos outros pontos
E desvendo no seu interior a verdadeira razão
Eu preencho minha tristeza com o seu vazio
E minha boca seca neste tempo ameno
Enquanto seu sorriso soa sempre sereno
Mundo a fora dos meus lábios frios
Que antes lhe suscitavam doces arrepios
E hoje sofrem secos a mingua neste chão
Beijando onde na secura havia um arpão
Donde se desvendara uma ponta de esperança
Hoje sua candura a faz parecer uma criança
E você fechou no seu interior a perdida razão
Me levantei com muita sede deste sonho
E repentinamente vi que não sorria tanto assim
Vi que quando falava de você lembrava de mim
Mas de um eu acuado e muito tristonho
E vi que era um pérfido falso risonho
Agindo de perfídia contra o meu corpo
Qual se encontra hoje quase morto
Como as cavidades ocas do meu peito vão
A minha alma faria o meu corpo quase são
Se por você não tivesse sido destruída
E nela cravava um dardo a cada despedida
Quando no seu peito rendida era a verdadeira razão